Sílvia Corrêa

É jornalista e médica veterinária, com mestrado e residência pela Universidade de São Paulo.

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Sílvia Corrêa
Descrição de chapéu

Estudiosos acreditam que cães são capazes de sentir a perda e o luto

Rodrigo Fortes

A cena foi flagrada por um socorrista do Samu (Serviço Móvel de Urgência), ganhou as redes sociais e emocionou muita gente.

Alcione Ortiz passava pela avenida Rotary, na pequena Curitibanos, uma cidade de 38 mil habitantes na serra catarinense, quando percebeu um chow-chow atropelado, no meio da pista, e, deitado ao lado dele, um outro cachorro.

O socorrista parou e fotografou o que via. A imagem viralizou na internet. Ao lado do chow-chow morto, o vira-lata parecia fazer guarda com o corpo colado ao do animal sem vida.

O acidente aconteceu no começo da tarde da segunda-feira de Carnaval. Ortiz decidiu remover o corpo do chow-chow para o canteiro central, com medo que o vira-lata também fosse atropelado, e foi embora. Mas a imagem não o deixou em paz.

Quatro horas depois, quando ele voltou à avenida, o vira-lata ainda estava lá, debaixo de chuva, ao lado do companheiro morto. O socorrista enterrou o chow-chow e levou o outro cão para casa, mas o animal fugiu em seguida.

Cenas como essa não são raras. Nos últimos meses, lembro de casos semelhantes flagrados no Espírito Santo e na Itália. A pergunta de fundo é sempre a mesma: um cão sabe que o outro morreu? Por que ele fica por ali?

A ciência, infelizmente, tem mais perguntas do que respostas. A principal corrente de pensamento dos estudiosos do comportamento canino sustenta que eles têm as fases de negação, depressão e aceitação do luto, saltando apenas os momentos de raiva e barganha que nós, humanos, enfrentamos ao encarar as nossas perdas.

A teoria é bonita, mas não responde se o animal permanece ao lado do companheiro como forma de esperá-lo, apenas enquanto nega a morte, ou se esse comportamento já manifesta certa tristeza que acompanha a fase de depressão pela perda.

Seja lá por que for, a cena nos causa aquela bola no estômago e nos faz pensar sobre nossas próprias amizades. Em tempos de vínculos cada vez mais assépticos e digitais, será que somos capazes de uma fidelidade canina?

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