Sílvia Corrêa

É jornalista e médica veterinária, com mestrado e residência pela Universidade de São Paulo.

Salvar artigos

Recurso exclusivo para assinantes

assine ou faça login

Sílvia Corrêa
Descrição de chapéu Coronavírus

Gatos podem transmitir Sars-CoV-2 para outros gatos

Estudo dá um passo na investigação do comportamento do vírus, mas não justifica abandono de animais

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Gatos infectados experimentalmente com o Sars-CoV-2 (o vírus causador da Covid-19 em humanos) foram capazes de infectar outros gatos, com os quais conviveram na mesma gaiola, sem que nenhum deles manifestasse alterações clínicas decorrentes da infecção.

A afirmação é de um grupo de pesquisadores norte-americanos e japoneses e foi publicada como uma carta ao editor, na última quarta-feira (13), no New England Journal of Medicine, uma das mais respeitadas revistas médicas do mundo.

Esse é o primeiro estudo que atesta a capacidade de transmissão do vírus entre gatos, ainda que infectados experimentalmente.

Gatos separados por uma janela, na França
Gatos separados por uma janela, na França - Pascal Rossignol/Reuters

A pesquisa, no entanto, é importante ressaltar, não tem nenhum dado sobre transmissão de gatos para humanos e não há nenhum caso documentado no mundo de algum paciente que tenha contraído a doença por causa de um gato.

Antes deste estudo, o que os pesquisadores haviam conseguido comprovar, em um artigo publicado na revista Science, era a presença do material genético do vírus no organismo de gatos saudáveis colocados em contato com gatos experimentalmente infectados. Presença de material genético apenas, mas não vírus infectante —como os próprios autores do estudo diferenciam mais de uma vez.

Agora, a investigação dá mais um passo.

O grupo de pesquisadores das universidades de Tóquio e Wisconsin-Madison inoculou o Sars-CoV-2, isolado a partir de humanos infectados, nas narinas de três gatos e, no dia seguinte, colocou cada um deles em contato com um gato sem infecção.

De três a cinco dias depois de iniciada a convivência entre os gatos, vírus infectantes foram recuperados da cavidade nasal dos gatos saudáveis (os que não tinham sido inoculados experimentalmente) e continuaram sendo detectados por cinco a seis dias no organismo de todos os felinos do estudo —tanto os inoculados como os que foram infectados pelo contactantes. Os testes das fezes dos gatos deram negativo durante toda a pesquisa.

O grupo segue a narrativa com o que talvez seja o ponto mais importante da carta, segundo Yoshihiro Kawaoka, líder do estudo e professor da Escola de Medicina Veterinária da Universidade de Wisconsin. “Embora tenha havido relatos de gatos infectados e sintomáticos em alguns países, nenhum dos gatos em nosso estudo apresentou sintomas, incluindo temperatura corporal anormal, perda de peso ou conjuntivite.”

Isso significa que, apesar de o vírus ter conseguido se replicar no organismo dos gatos estudados, os animais com bom estado de saúde parecem vencer a infecção em cerca de seis dias, sem adoecer.

Por outro lado, o que agora deverá estar no alvo das investigações, é em que medida a espécie felina pode ser hospedeira assintomática do Sars-CoV-2 por, ao menos, uma semana.

“É necessário que a saúde pública reconheça e investigue a cadeia potencial de transmissão humano-gato-humano”, escrevem os pesquisadores.

Sem dúvida, é preciso investigar esse e tantos outros aspectos do novo coronavírus. A ciência é a única saída para a crise sanitária mundial.

Isso não muda, no entanto, o fato de que NÃO HÁ nenhum caso de humano doente no qual a origem do vírus tenha sido associada a um gato.

Isso não muda o fato de que a nossa principal forma de contágio (para lá de documentada) é o contato com outros humanos.

Isso não muda o fato de que, no que diz respeito à Covid-19, o perigo para nossa vida está no contato com a espécie humana e não com os felinos.

Portanto, caro leitor, não abandone seu gato, porque ele representa um risco menor à sua saúde do que seu cônjuge, seus filhos e seus netos.

Ao contrário, proteja seu felino de estimação, evitando que ele tenha acesso à rua ou restringindo o seu contato com ele se você estiver doente.

“As pessoas devem ter em mente que, se estão em quarentena em casa e preocupadas em não transmitir a Covid-19 para a família, elas também devem se preocupar em resguardar os animais de estimação”, diz o pesquisador Peter Halfmann.

No fundo, o que as pesquisas sugerem até agora é que possivelmente os gatos é que podem pegar o vírus da gente. Nós somos perigosos para eles. Não eles para nós.

LINK PRESENTE: Gostou desta coluna? Assinante pode liberar cinco acessos gratuitos de qualquer link por dia. Basta clicar no F azul abaixo.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.