Solange Srour

Diretora de macroeconomia para o Brasil no UBS Global Wealth Management.

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Até quanto o desemprego pode cair?

Futuro está na educação, não no uso desenfreado de apps de entrega e transporte

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Um dos efeitos mais positivos da saída da pior recessão de nossa história é o alívio no mercado de trabalho. Ainda não temos o número final, mas estima-se que a taxa de desemprego média de 2019 fique em torno de 11,9%, ante 12,3% em 2018. 

Em um país com um contingente perto de 13 milhões de desempregados, duas perguntas estão postas: é possível reduzir o desemprego mais rapidamente? Até quanto o desemprego pode cair sem gerar inflação?

As respostas dependem do conceito de Nairu, ou taxa de desemprego não inflacionária, que equilibra a oferta e a demanda por trabalho. Quanto mais longe a taxa de desemprego estiver da Nairu, mais espaço há para a redução do desemprego. O quão rápido esta distância será reduzida depende da flexibilidade do mercado de trabalho, da qualificação da mão de obra e das especificidades da demanda por trabalho.

Na foto, alguns papéis com anúncios de vagas de emprego estão coladas em um poste. Em segundo plano, um homem fotografa uma das vagas com o celular
Esquina da Rua Barão de Itapetininga com a Rua Dom José de Barros é considerada a esquina do desemprego; - Rivaldo Gomes - 15.out.2019/Folhapress

É difícil ter uma estimativa precisa da Nairu. O que temos observado desde 2017 é um crescimento medíocre do PIB e uma queda muito lenta do desemprego. Ao comparar com o nosso passado —nos últimos 20 anos tivemos um crescimento médio de 2,2%, com desemprego médio de 9%—, muitos analistas afirmam existir uma enorme ociosidade na economia. O que nos faltaria seriam mais estímulos monetários ou fiscais.

No entanto, há um fenômeno ocorrendo que coloca em xeque essa tese. Depois de forte queda durante a recessão, a produtividade (o quanto produzimos por hora trabalhada) continua caindo. Deu um leve respiro de alta em 2017, mas perdeu fôlego em 2018 e cairá em 2019. 

No terceiro trimestre de 2019, a produtividade agregada caiu 0,7% em relação ao mesmo trimestre de 2018, após queda de 1,0% e 1,6% no primeiro e segundo trimestre, respectivamente. O setor de serviços representou o 22º trimestre consecutivo de queda no último dado divulgado. Sem produtividade, o potencial do PIB cai, e o desemprego estrutural é maior.

A produtividade costuma cair em anos de recessão, mas é incomum tal fato ocorrer posteriormente. Há duas explicações —não excludentes. A primeira é que, diante da mediocridade do PIB, as contratações pelas empresas tendem a ser cautelosas. O emprego formal, mais produtivo e de mais alto custo, demora a aparecer.

O principal catalisador da redução do desemprego até agora tem sido justamente a ocupação informal de trabalhadores por conta própria, com menor produtividade. Esse movimento pode ser revertido à medida que o crescimento ganhe tração. Entretanto, se a incerteza dos empresários permanecer elevada, a Nairu aumentará, pois há fricções no deslocamento do trabalhador formal para a informalidade.

Outra explicação para a queda da produtividade aborda fatores mais duradouros, como o conhecido efeito histerese. A histerese no mercado de trabalho ocorre quando o ciclo econômico afeta a estrutura do emprego. Trabalhadores que ficam desempregados por um período prolongado desaprendem tarefas e rotinas, desatualizam-se e enfrentam dificuldade para retomar suas funções. A histerese deteriora o capital humano, afeta a produtividade e aumenta a Nairu.

O mercado de trabalho brasileiro passa por uma revolução com a incorporação das inovações tecnológicas. O resultado desse processo dependerá fundamentalmente da qualificação de nossa mão de obra. 

A reforma trabalhista deu passo importante para formalizar as novas relações de trabalho e trará ganhos de produtividade. Mas não avançamos na acumulação de capital humano, e a recessão pode ter agravado nossa baixa qualificação. 

O futuro do emprego e do crescimento está na educação, não no uso desenfreado de apps de entrega e transporte.

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