Acho que estamos fazendo tudo errado. Estamos tentando combater fake news com lógica e raciocínio, tentando argumentar com as vítimas da desinformação acerca do erro de suas crenças contra a veracidade de nossos dados. É como gritar com surdos, ou discursar em grego em praça pública tupiniquim. Na verdade, é bem pior do que isso, porque tentar combater fake news com dados e lógica não funciona nem quando se fala a mesma língua, como os últimos anos vêm demonstrando.

Tenho uma nova hipótese, perfeitamente testável e, portanto, cientificamente válida. Proponho que o problema das marés de fake news não é falta de informação correta, e sim um problema de falta de pensamento crítico que dá vez a crenças estapafúrdias, como kits gay, mamadeiras de piroca e tais.

A parte mais importante da minha hipótese é a proposta de que não se argumenta contra crenças estapafúrdias: a saída é bombardear o inimigo desinformado com... ainda mais desinformação, sempre espetacularmente e espantosamente estapafúrdia —ou não?

Minha hipótese é inspirada por meu novo herói da divulgação científica, um desinformador nato que descobriu seu talento para combater o absurdo com mais absurdo ainda ao encontrar-se subitamente cercado por um mar de trumpistas que invadiam uma marcha pelos direitos das mulheres em 2017, aqui no Tennessee, onde moro, nos EUA.

Em plena passeata, Peter McIndoe sacou uma cartolina e um marcador e produziu seu próprio cartaz-manifesto com as primeiras palavras de ordem que lhe vieram à mente: OS PÁSSAROS SÃO DE MENTIRA ("birds aren’t real", no original), em letras garrafais.

Começou como gozação, com o objetivo de invalidar, por associação, os dizeres dos cartazes trumpistas ao redor. Mas, em tempos de mídias sociais, "Os Pássaros São De Mentira" logo virou movimento. O site está lá: birdsarentreal.com, onde você pode conferir a teoria da conspiração que McIndoe criou como sátira-protesto desinformativo contra a desinformação.

Segundo ele, todos os pássaros nos EUA teriam sido exterminados pelo governo federal durante a década de 1960, e substituídos por drones que monitoram e espionam os cidadãos. A campanha desinformativa tem detalhes deliciosos: que os pássaros-drones se recarregam ao pousar nos fios elétricos; que cocô de pássaro nos carros é um sistema dissimulado de seguir as pessoas; e que o presidente Kennedy teria sido assassinado em 1963 por hesitar em matar todos os pássaros.

Obviamente que o teste hipotético da minha hipótese não envolveria acabar com notícias reais. Sou cientista e sei em primeira mão do conforto que dados oferecem: a não ser que o método seja questionável, dados são dados, e o que se discute é apenas seu significado e interpretação. Mídia confiável, com editorias e serviço de pesquisa, deveria ser serviço público garantido e protegido, oferecido por instituições comprometidas com fatos.

Mas de resto... Imaginem um mundo onde a criatividade e irreverência brasileiras fossem postas a serviço de tanta, mas tanta, besteira eleitoral que as pessoas não teriam outro jeito senão, imagine só, terem que parar pra pensar no que é de fato verdade? Ah, brasileiros, não me decepcionem...