Sylvia Colombo

Historiadora e jornalista especializada em América Latina, foi correspondente da Folha em Londres e em Buenos Aires, onde vive.

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Crime organizado internacional atinge até Costa Rica, antes referência na América Central

Demarcação de território, extorsão de comerciantes e 'pedágio' irregular começam a ocorrer em profusão no país

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A Costa Rica sempre foi conhecida como o país mais pacífico da América Central. Uma canção nacional (mas não oficial) tocada em todas as festas populares chama-se "Costa Rica, Suíça centro-americana". Ao analisar pesquisas sobre qualidade de vida, educação, saúde e satisfação com a democracia, como a Latinobarómetro, o país se destaca sempre entre os primeiros colocados, ao lado do Uruguai.

Sem contar a peculiaridade de que o país, mesmo com a vizinhança muito violenta, aboliu suas Forças Armadas há 75 anos. Sua economia é estável, baseada na exportação de produtos agrícolas, eletrônicos e uma forte indústria de turismo, muito por conta de suas praias e de outras belezas naturais.

Estudantes caminham atrás de parede de proteção em escola da vizinhança de Ciudadelas Unidas, no distrito de Alajuelita, em São José, Costa Rica
Estudantes caminham atrás de parede de proteção em escola da vizinhança de Ciudadelas Unidas, no distrito de Alajuelita, em São José, Costa Rica - Mayela Lopez/Reuters

A Costa Rica, porém, não é imune ao processo de degradação econômica, institucional e social que vem ocorrendo nos outros países, acompanhado de uma tendência autoritária que já é marcada em Nicarágua, El Salvador e Guatemala, por exemplo.

Tem causado surpresa e medo entre os costarriquenhos o avanço da violência. Já em 2022, o país teve um recorde de 666 homicídios. Neste ano, o número foi batido no primeiro semestre, e analistas projetam que a cifra deve chegar a 900 até dezembro. Até 2020, era a metade disso.

Esse aumento se deve à penetração, em seu território, dos cartéis mexicanos de Sinaloa e Jalisco, além das "maras" (facções criminosas) salvadorenhas, que vem sendo perseguidas e aprisionadas nas megaprisões das quais tanto se orgulha Nayib Bukele.

O jornal mexicano El Universal revelou que o governo local tem buscado uma estratégia já comum no passado recente dos países vizinhos, a de negociar "tréguas" e fazer acordos com esses grupos fora da lei. Essa estratégia, adotada de modo geral depois do ciclo de guerras civis, acabou fracassando em todos esses países, por não combater a raiz do problema: o imenso fluxo de drogas ilegais que atravessa esses territórios em direção aos Estados Unidos. O narcotráfico na região vem aumentando muito por causa da presença dos grupos estrangeiros.

Crimes de demarcação de território, prática de extorsão dos comerciantes locais, "pedágio" irregular cobrado nas estradas —tão comuns entre os vizinhos— começaram a ocorrer em profusão na antes calma Costa Rica.

O governo do presidente Rodrigo Chaves —um economista conservador que assumiu em 2022— nega que essas negociações estejam sendo feitas. Porém, a Procuradoria local já pediu a abertura de uma investigação após a denúncia feita pelo jornal mexicano.

Outro dos fatores que vêm causando insatisfação com o governo de Chaves é o maltrato a imigrantes, principalmente aqueles que atravessam o terrível estreito de Darién, e que, quando chegam ao território costarriquenho, imediatamente são forçados a entrar em ônibus que os levam ao norte. Mesmo assim, muitos ainda conseguem ficar no país, causando aumento de casos de xenofobia, além de divisão política.

Os demais países da região, e de modo geral, de toda a América Latina, têm tratado a questão da violência gerada por essas facções criminosas apenas internamente, com soluções e medidas que não extrapolam as fronteiras de cada nação. Trata-se de um erro.

Na América Latina de hoje, o crime organizado transnacional está muito mais integrado do que estão os governos nacionais, dando maior liberdade de ação a esses grupos, para quem atravessar fronteiras ficou fácil.

É urgente que se tomem medidas conjuntas regionais, ou todos acabarão seguindo esse caminho. Nem mesmo a Suíça da América Central está resistindo.

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