Tatiana Prazeres

Executiva na área de relações internacionais e comércio exterior, trabalhou na China entre 2019 e 2021

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Tatiana Prazeres

À la chinesa

Imprecisão de conceitos-chave do país confere flexibilidade para ajustes de rumo

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A próxima semana em Pequim será marcada –com pompa, circunstância e uma grande parada militar– pelas celebrações dos 70 anos da fundação da República Popular da China. Sim, a China fundada por Mao Tsé-tung, a China sob o comando do Partido Comunista Chinês.

Curiosamente, 2019 também marca os 40 anos do processo de reformas e abertura liderado por Deng Xiaoping, fundamental para colocar a China no rumo da prosperidade.

Entre as comemorações dos 70 anos da revolução e dos 40 anos das reformas, os chineses passam em revista sua história recente e, discretamente, discutem qual mereceria a festa maior.

Ao mesmo tempo, o Brasil e o mundo ainda tentam entender como a China está hoje tomando a dianteira da história. A evolução recente e o modelo político, econômico e social do país ainda geram grande incompreensão mundo afora, e em particular no Ocidente. Esse desconhecimento alimenta desconfiança, provoca desconforto.

Alguns conceitos-chave para o governo e para o partido ainda são uma incógnita para boa parte de mundo. Há a "economia socialista de mercado", para muitos uma contradição em termos, mas que, à moda chinesa, tem funcionado bem. O "rejuvenescimento nacional" é um grande objetivo do país. E o principal projeto da política externa chinesa chama-se Iniciativa do Cinturão e Rota.

Não surpreende que o mundo tenha dificuldades de entender a China. Isso só faz a tarefa mais urgente e importante.

É interessante observar como, por aqui, "características chinesas" é um rótulo com frequência associado a conceitos políticos importantes. Para os observadores externos, essa qualificação adiciona uma camada grossa de imprecisão a qualquer ideia.

Para o governo e o partido, porém, isso confere a flexibilidade necessária para que avancem de maneira incremental, experimentem e façam ajustes de rumo. A Iniciativa do Cinturão e Rota, por exemplo, começou envolvendo o aumento da conectividade apenas entre China e Ásia Central e, rapidamente, evoluiu de forma a abranger todo o mundo. Política externa com características chinesas.

Mais importante, "socialismo com características chinesas" foi um conceito fundamental na narrativa das reformas introduzidas por Deng Xiaoping e sobrevive firme e forte.

Nas comemorações dos 70 anos da Nova China, o dirigente Xi Jinping reforça a mensagem de que esse socialismo entra em uma nova era. "Nem a rigidez e o isolamento do passado nem mudança da natureza ou abandono do modelo chinês", afirma.

Entre uma coisa e outra, o governo opera com grande latitude, apoiando-se em slogans agregadores. Ao mesmo tempo, por trás de "características chinesas" escondem-se desafios e mesmo contradições que intrigam observadores externos e preocupam lideranças locais.

A China é um país complexo, de contrastes, com um modelo próprio e em ritmo acelerado de evolução. Não se presta bem a visões definitivas e posições categóricas.

Em tempos de polarização, de muita opinião e pouca análise, falar sobre a China com equilíbrio e informação é o desafio que decidi aceitar com esta coluna. Conhecer melhor a China é cada vez mais necessário para entender minimamente o mundo.

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