Tatiana Prazeres

Executiva na área de relações internacionais e comércio exterior, trabalhou na China entre 2019 e 2021

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Está dada a largada da competição em tecnologias verdes

Com EUA de volta ao jogo, Pequim e Washington abrem nova frente de disputa

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Depois de quatro anos de negacionismo climático sob Donald Trump, Joe Biden reverte a posição dos EUA em matéria de aquecimento global no primeiro dia de seu mandato.

O retorno dos EUA ao Acordo de Paris cria condições excepcionalmente favoráveis para que os principais emissores de carbono —China, EUA e União Europeia— possam colaborar nesse tema.

Enquanto a oportunidade para cooperação tem recebido destaque, um fenômeno paralelo, no entanto, merece atenção. Trata-se da disputa 2.0 pelas tecnologias que vão viabilizar a transição para uma economia de baixo carbono.

A competição que importa não é a de quem se tornará carbono-neutro primeiro. Ou quem se sairá melhor na diplomacia climática. Ou quem posará de herói na conferência do clima em Glasgow neste ano.

Ativistas ambientais fazem protesto em Washington
Ativistas ambientais fazem protesto em Washington - Jonathan Ernst - 13.jul.12/Reuters

A corrida que interessa é pelo domínio das tecnologias que permitirão novas maneiras de produzir, transportar, consumir, construir e gerar eletricidade.

A disputa não é nova, mas cozinhava em fogo brando enquanto o ocupante da Casa Branca se preocupava em resgatar os anos gloriosos do carvão. Os EUA perderam tempo.

Agora, o green tech americano protagonizará um novo capítulo na rivalidade tecnológica China-EUA. Desta vez, com a mão amiga —e os bolsos fundos— do governo americano. Política industrial deixou de ser palavrão em Washington. Durante a campanha, Biden prometeu US$ 2 trilhões para a economia verde no seu primeiro mandato.

Do outro lado do mundo, o capitalismo de Estado chinês nunca deixou de investir em carvão —mas vem há anos apostando alto, por exemplo, em energia solar e eólica e em veículos elétricos. Busca inovações em várias frentes, como tecnologias para captura de carbono.

O novo plano quinquenal 2021-2025 redobrará os esforços para que a China domine as tecnologias e as cadeias de suprimento que ganharão o mundo à medida que mais países traduzam, em ações concretas, seus compromissos de redução de emissões.

O risco é de que haja uma reprise, em menor escala, da novela do 5G. O perigo é o de que a rivalidade em tecnologias verdes adquira contornos característicos da confrontação dos anos Trump. Como nunca antes, sua administração instrumentalizou preocupações de segurança nacional para proteger interesses econômicos.

O problema é que, hoje, até gente de bom-senso não sabe o que realmente representa um risco para a segurança nacional dos EUA. No afã de proteger tudo, os americanos correm o risco de não protegerem nada. E simplesmente abraçarem o protecionismo.

Neste momento, os chineses investem, por exemplo, na aplicação de tecnologias digitais, como inteligência artificial e computação na nuvem, para oferecer soluções ambientais.

O “City Brain”, do Alibaba, tem sido adotado por várias cidades para racionalizar o trânsito e reduzir emissões de transporte. Smart grids têm aumentado a eficiência de redes de distribuição elétrica. Robótica tem ajudado na tarefa difícil de reduzir emissões da manufatura chinesa.

Certamente haverá quem, nos EUA, entenda que tudo isso é uma grande ameaça à segurança nacional do país. Se o TikTok supostamente é, por que essas outras tecnologias não seriam? Haverá quem defenda que apenas tecnologias livres de componentes chineses são seguras.

O sentimento anti-China nos EUA, cultivado com afinco por Trump, reverberará na gestão Biden. Influenciará essa nova disputa tecnológica e poderá prejudicar esforços para combater o aquecimento global.

Ao mesmo tempo em que se abre uma grande oportunidade para cooperação na área do clima, está dada a largada para uma nova competição por domínio tecnológico. Mantida sob controle, a disputa pode acelerar soluções inovadoras. Caso contrário, a geopolítica deixará as preocupações climáticas em segundo plano.

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