Tayguara Ribeiro

Na Folha desde 2019, é repórter de Política. Já trabalhou em Economia e no jornal Agora. Antes, cobriu futebol da série A3 do Paulista à Copa do Mundo de 2014.

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Tayguara Ribeiro
Descrição de chapéu Copa do Mundo 2022

Europeus só jogaram entre si e agora patinam contra outros continentes

Calendário na Europa impediu jogos contra seleções de outras partes do mundo; até aqui, futebol ruim é efeito colateral

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Durante o último ciclo de Copa, entre 2018 e 2022, existiu uma preocupação um pouco excessiva, a meu ver, com a ausência de jogos do Brasil contra seleções europeias. A tese era que, sem essas partidas, era impossível saber se a seleção brasileira estava bem ou não.

Nos últimos anos, a Europa se fechou no futebol. Com a disputa dos torneios locais de clubes, a Eurocopa e um segundo torneio continental criado por eles, a Liga das Nações, não sobrou espaço no calendário para que os países de lá enfrentassem times de outros cantos em amistosos.

A preocupação é válida. Testar a equipe diante de desafios e jeitos de jogar diferentes tende a ajudar na preparação e permite uma análise melhor sobre o desempenho. Mas o caso é que isso é válido para os dois lados. Eles também não jogaram contra o Brasil. Tampouco contra outros times.

Partida entre Japão e Alemanha, no Khalifa International Stadium, Doha, Qatar - Molly Darlington - 23.nov.22/Reuters

A primeira fase nos apresenta, de muitas formas, o resultado que isso trouxe. Um exemplo foi o futebol sofrível e a imensa dificuldade da Holanda em jogar com Senegal e com Equador, apesar dos quatro pontos que conseguiram, sabe-se lá como, nessas partidas.

A poderosa Alemanha patinou e perdeu para o Japão. Tem chances reais, bem possíveis, de cair fora da Copa do Mundo já na primeira fase.

A Dinamarca não conseguiu sair do empate com a Tunísia e complicou seu caminho em um grupo que tem a França, atual campeã do mundo.

A Sérvia não entrou em campo contra o Brasil. A Bélgica teve muita dificuldade para ganhar do pouco frequentador de Copas Canadá. A Inglaterra, quando pegou os EUA, não conseguiu sair do empate.

País de Gales foi além. Não ganhou dos americanos e ainda perdeu para o Irã. Aliás, os iranianos foram muito superiores na partida contra os apáticos galeses.

Portugal venceu Gana, é verdade. Mas o pênalti que garantiu o placar foi, digamos, duvidoso. O desempenho do time não empolgou.

Sim, ok, é o começo da Copa. É muito cedo para descartar essas seleções. Nada impede que os times melhorem. Nada impede que avancem, mesmo sem melhorar. Um deles pode levar o título. O ponto é que a reclusão futebolística também não fez bem a eles.

Praticamente todos os europeus tiveram muita dificuldade de jogar com asiáticos, sul-americanos, africanos e norte-americanos. Perderam. Empataram com atuações ruins. Venceram sem mostrar bom desempenho em campo.

Por ora, futebol convincente, sem dificuldades, é França e Espanha, entre os europeus. Mesmo desfalcada pelas constantes contusões, a atual campeã do mundo jogou bem e ganhou com facilidade da Austrália. Já os espanhóis apresentaram um futebol vistoso e letal contra a Costa Rica.

Os outros vizinhos de continente tiveram dificuldade de lidar com as estratégias de adversários de outras partes do mundo. Demoraram para entender os potenciais na parte física e técnica.

Isso me leva a pensar como muitas vezes o futebol é olhado apenas por um prisma europeu. São seleções fortes, têm bons jogadores. Sim, é difícil analisar o potencial de uma seleção que não joga contra eles. Mas o oposto também ocorre.

Talvez devessem repensar o isolamento futebolístico, por benefício próprio. Conseguem reproduzir o futebol apresentado nos torneios internos da Europa contra times que não estão acostumados a enfrentar? A Copa, até aqui, vem mostrando que não.

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