No conhecido meme, um monstrengo vermelho pergunta: “E o PT, hein? E o Lula?”. O fator cômico reside na desconexão entre o assunto em questão e o PT; caçoa do doisladismo, enquanto método de análise, por ser preguiçoso (e é). Bem, e quando há uma relação entre o PT e o tema em debate: falaremos sério?
Mano Brown perguntou a Lula: “A esquerda é branca?”. Lula: “Não é verdade. Você só colhe o que você plantou. (...) Política nesse país era uma coisa branca mesmo (...) A direção do PT tinha uma maioria branca e de homens. Há uma evolução política dos negros (...) adquirindo a consciência de que não basta ficar achando que é vítima.”
Ao flertar com vitimismo, colocando sobre negros o fardo de uma imaginária involução, Lula erra feio. O fato de outros já terem errado ainda mais —um é racista (Bolsonaro), outro confunde igualdade com “interesses identitários” (Ciro) e outro já mandou a polícia atirar pra matar (Doria)— não exime Lula de crítica.
Tampouco os ganhos logrados sob o PT o eximem de crítica, seja porque conquistas vieram de pressão de movimentos sobre o partido (vide pesquisa de Cristiano Rodrigues); seja porque a relação entre PT e questão racial fora, desde os primórdios, conflituosa, entre partido e movimentos, entre raça e classe (vide Claudete Gomes e Flavia Rios).
Não são poucos os erros. “É como um artilheiro em frente ao gol”, disse em 2015 Rui Costa (PT-BA) sobre a chacina de Cabula. Encarceramento explodiu com lei de drogas da era Lula. Plano nacional anti-homicídios foi engavetado na era Dilma. Cargos chaves no Diretório Nacional do PT são brancos. Belo Monte. Omissão sobre PM e militarização.
Que o Lula de hoje escute o de 1981. “Devemos apoiar a organização dos negros, ainda que isso venha a descobrir a luz do sol o racismo que carregamos nas entranhas.” Ou veem negros como sujeitos políticos plenos, e a questão racial como estrutural, ou a esquerda branca ficará presa ao mito narcísico que inventou sobre sua própria benevolência.
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