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Cronista esportivo, participou como jogador das Copas de 1966 e 1970. É formado em medicina.

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Não há favorito entre Brasil e Alemanha

Amistoso não é suficiente para tirar conclusões para a Copa

Paulinho marca em amistoso entre Brasil e Rússia; jogo terminou com vitória de 3 a 0 para a seleção
Paulinho marca em amistoso entre Brasil e Rússia; jogo terminou com vitória de 3 a 0 para a seleção - Alexander Nemenov - 23.mar.2018/AFP

Será quase impossível que, na Copa, ocorra uma grande novidade tática. No passado, as surpresas aconteciam, por causa da pouca comunicação e do desconhecimento que uma seleção tinha das outras. O Mundial de 1966 foi o início do 4-4-2, com os ingleses, com duas linhas de quatro e dois atacantes. Em 1970, pela primeira vez, um time brasileiro tentou jogar um futebol compacto. Em 1974, a Holanda surpreendeu o mundo, com a marcação por pressão em todo o campo.

No passado, os times e as seleções de cada país jogavam de maneira diferente. Hoje, no Brasil e em todo o mundo, atuam com um meia ou atacante aberto de cada lado. Isso acontece, na Europa, desde o Mundial de 1966, seja qual for o desenho tático. No Brasil, começou recentemente, no Corinthians, com Tite e Mano Menezes. A Seleção de 1994, sob o comando de Parreira, foi exceção. Os meias Zinho, pela esquerda, e Raí (depois, Mazinho), pela direita, marcavam ao lado dos dois volantes.

Durante décadas, as equipes brasileiras desprezaram as duas linhas de quatro, como se fosse uma retranca. A maioria jogava com três no meio-campo e mais um meia de ligação, formando um losango, além de dois atacantes (4-3-1-2), ou com dois volantes, dois meias livres e que não participavam da marcação e dois atacantes (4-2-2-2). Quem avançava pelas pontas eram os laterais, com a cobertura dos volantes e zagueiros.

Uma tendência mundial é, em vez de jogar com dois volantes em linha e um meia centralizado, atuar com apenas um volante e dois armadores (meias), que defendem e atacam. Como se esperava, foi assim que o Brasil enfrentou a Rússia, com Casemiro de volante, além dos meias Paulinho e Coutinho, um de cada lado.

A Rússia, com cinco jogadores atrás (três zagueiros e dois alas), como Tite queria para teste, foi um adversário difícil apenas no primeiro tempo, quando teve até mais chances de gol. No segundo, os russos atacaram mais, se cansaram, não voltaram para marcar e deixaram grandes espaços para os hábeis e velozes dribladores brasileiros.

A nova formação tática foi aprovada para enfrentar adversários na primeira fase do Mundial, que devem jogar de maneira parecida à da Rússia, embora os russos, quando iam ao ataque, criassem várias chances de gol. O campo ficou grande para Coutinho atacar e defender, funções que Paulinho faz muito bem.

Já contra a Alemanha, Tite deve colocar Fernandinho ao lado de Casemiro e Paulinho, para reforçar a marcação e evitar que os alemães tomem conta da bola no meio-campo. Sairia Douglas Costa. Na Copa de 2014, eram cinco alemães contra dois do Brasil. Os 7 a 1 foram uma união da tática suicida brasileira com a eficiência alemã e com os mistérios do futebol. O luto já terminou. Atualmente, não há favorito nem podemos tirar conclusões definitivas para a Copa por causa de um amistoso.

Apesar da globalização, Brasil e Alemanha simbolizam duas escolas do futebol mundial. A da Alemanha, de muita lucidez coletiva, com troca de passes e domínio da bola no meio-campo, e a do Brasil, com mais dribles, improvisações e jogadas mais rápidas em direção ao gol, o que não significa que os alemães não driblem nem que os brasileiros não troquem passes e não joguem de maneira coletiva.

Não haverá surpresas na Copa, a não ser que surja um doido varrido ou um maluco beleza.

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