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Cronista esportivo, participou como jogador das Copas de 1966 e 1970. É formado em medicina.

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Volantes voltaram a jogar com talento e habilidade, como no passado

Velho centromédio era o jogador que tinha o melhor passe para iniciar os ataques

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Na coluna anterior, falei das tristezas e das coisas ruins que acontecem no país e no futebol brasileiro. Há também muitas coisas boas, como a transparência e a segurança das urnas eletrônicas. Fora os antigos e graves problemas políticos, econômicos, sociais e de comportamento que assolam o país, como o racismo (um crime), presente dentro e fora dos estádios, vimos, na pandemia, a solidariedade, a generosidade e a responsabilidade profissional da maioria dos cidadãos brasileiros.

Os dois anos de pandemia, com estádios vazios, e a volta recente do público às partidas confirmaram que as equipes que atuam em casa, na média, no Brasil e em todo o mundo, levam grande vantagem.

Em casa, apoiados pela torcida, os jogadores costumam ser mais vibrantes, ousados, desde que a pressão para vencer e a tensão emocional não ultrapassem certos limites. Os atletas não podem perder a lucidez para tomar as decisões corretas. Já os visitantes, com frequência, ficam inibidos e tendem a atuar com mais cautela. Há exceções, dos dois lados.

A estratégia atual de pressionar e de tentar recuperar a bola mais perto do outro gol favorece as equipes que jogam em casa. Há também riscos. Se o meio-campo avança e os zagueiros ficam atrás, abrem-se grandes espaços entre os dois setores. Na vitória por 3 a 2 do Flamengo sobre a Universidad Católica, pela Libertadores, os dois times tiveram enormes facilidades para trocar passes e chegar até o gol.

Flamengo e Universidad Católica tiveram facilidades para chegar ao gol no duelo da Libertadores - Ivan Alvarado - 28.abr.22/Reuters

Se o meio-campo e os zagueiros se adiantam, aumentam os espaços entre a defesa e o goleiro. Para amenizar o problema, as equipes precisam ter goleiros que saibam jogar fora do gol e zagueiros rápidos e inteligentes. O veterano Thiago Silva, antes de a bola ser lançada, percebe todos os movimentos dos companheiros e dos adversários, antecipa-se e ainda inicia os contra-ataques com um bom passe.

Na vitória do Manchester City sobre o Real Madrid, por 4 a 3, Vinicius Junior deu um drible espetacular em Fernandinho, na linha de meio-campo, pela lateral, e teve um enorme espaço livre até o gol, já que toda a defesa do City estava adiantada. Muitos se lembraram do gol da Bélgica sobre o Brasil, na Copa de 2018, quando Fernandinho foi também driblado. Acham que, se houvesse, no lugar de Fernandinho, um jogador como Casemiro, ele faria a falta, e não haveria o gol. Tenho dúvidas se algum marcador conseguiria parar Vinicius Junior.

Casemiro e Fabinho, titular e reserva da seleção, evoluíram bastante. Os dois, além de pressionar o adversário e desarmar com facilidade, aprenderam, com talento, a continuar as jogadas de ataque. Isso ocorre também com os melhores volantes atuais do mundo. No Brasil, temos também volantes com essas características, como Danilo, do Palmeiras, Allan, do Atlético, e Queiroz, do Corinthians. Não há mais lugar para volantes que só marcam nem para os que são lentos e sem intensidade.

Nos anos 1950 e 1960, o jogador de meio-campo mais recuado, centralizado, chamado de centromédio, era o que tinha o melhor passe para iniciar as jogadas ofensivas. Com o tempo, foram substituídos pelos brucutus, pesados, protetores da zaga que só davam passes curtos e para o lado. Hoje, os volantes voltaram a jogar com talento e habilidade, como no passado.

Roberto Belangero (à dir.) era o centromédio de passe preciso do Corinthians campeão de tudo nos anos 1950 - Reprodução

A vida dá muitas voltas. Para evoluir, é necessário olhar para trás e pensar na frente. Passado, presente e futuro se interligam. O destino é uma mistura de planejamento, de sonhos e de acasos.

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