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Cronista esportivo, participou como jogador das Copas de 1966 e 1970. É formado em medicina.

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O que é tido como moderno no futebol já foi ultrapassado

E o que é visto como ultrapassado outrora foi enxergado como moderno

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No futebol, muitas coisas ditas como modernas já foram ultrapassadas, enquanto outras, que eram vistas como modernas, tornaram-se ultrapassadas.

Os anos 60 foram tempos de futebol arte, de improvisações e de mais lances bonitos e efeitos especiais. Depois, mais ou menos nos anos 80, começou a predominar o jogo coletivo. Os devaneios individuais eram menos valorizados. Havia um fascínio pelas bolas longas e pela velocidade para chegar ao gol. A troca de passes representava a lentidão e o jogo ineficiente. O futebol ficou mais feio e improdutivo.

A partir da Copa de 2002 houve uma reação, uma evolução lenta e progressiva na maneira de jogar que continua até hoje. Descobriu-se o óbvio, que era possível unir a intensidade com as triangulações e a falta de pressa para chegar ao gol, embora até hoje no Brasil predominem as bolas longas e os cruzamentos para a área.

O clássico no meio de semana entre os dois Atléticos, pela Libertadores, foi um bom jogo, com muita intensidade, emoção e belos lances, como o magistral gol do jovem Vitor Roque e a conexão precisa entre Hulk e Paulinho no gol do Galo. Porem abusaram dos passes longos com pouca participação do meio-campo, a não ser quando a bola chegava para o veterano Fernandinho, que a tratava com carinho e muita técnica.

Atlético e Athletico fizeram um bom jogo, com intensidade - Rodolfo Buhrer - 18.abr.23/Reuters

Repito, o Atlético-MG joga com dois blocos separados, cada um com cinco jogadores: o de trás com os quatro defensores e o volante, o de frente com três meias ofensivos e dois atacantes. Há pouca conexão entre os dois blocos. A bola passa pouco pelo meio-campo.

O Fluminense, no Brasil, é o único time que privilegia a construção das jogadas no meio-campo, com a aproximação de vários jogadores, que trocam passes e avançam juntos em direção ao gol. Real Madrid e Manchester City, os dois melhores times do mundo, que se enfrentarão em uma das semifinais da Liga dos Campeões, destacam-se pelo prazer e pela criatividade de trocar passes em direção ao gol. O Real, quando é necessário, utiliza a transição rápida para o gol, com passes longos para Vinicius Junior. O mesmo faz o City com Haaland.

Ganso joga hoje no Fluminense como meio-campista, de uma intermediária à outra. Ele é o elo entre os jogadores. No passado, atuava como meia ofensivo, da intermediaria do adversário ao gol, em pequeno espaço, à espera da bola para dar o passe decisivo. Com o tempo, tinha cada vez menos chance de recebê-la livre, causa importante do seu declínio. No Fluminense, voltou a brilhar.

Sampaoli gosta também de unir intensidade e posse de bola. Assim como Bielsa e Guardiola, ele costuma colocar sete jogadores no campo do outro time e deixar três zagueiros no próprio campo. Para funcionar bem e não deixar muitos espaços na defesa, é necessário recuperar, rapidamente, a bola. Quando ele era técnico do Atlético MG, a equipe sofria muitos gols de contra-ataque.

Jorge Sampaoli gosta de unir intensidade e posse de bola - Mauro Pimentel - 19.abr.23/AFP

As coisas vão e voltam na vida e no futebol. O ser humano é um animal racional, de hábitos, repetições, que gosta também do novo. Já houve a época dos românticos, dos realistas, do futebol arte e do de resultados. Agora são os tempos do VAR, das redes sociais, da inteligência artificial, dos relacionamentos digitais, do jogo com muita intensidade, da pressão para recuperar a bola e de tantas outras modernidades. A única coisa que não sai de moda é o talento.

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