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Cronista esportivo, participou como jogador das Copas de 1966 e 1970. É formado em medicina.

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Grandes viradas como a do Palmeiras não têm uma explicação única

Futebol é muito complexo, nós é que tentamos simplificá-lo com racionalizações

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A avalanche do Palmeiras na goleada por 5 a 0 contra o São Paulo se repetiu no segundo tempo contra o Botafogo. A expulsão discutível de um jogador do Botafogo e o pênalti perdido por Tiquinho, uma falha do árbitro, quando o jogo estava 3 a 1, contribuíram para a reação espetacular e a vitória do Palmeiras por 4 a 3.

O jovem Endrick brilhou intensamente. O domínio da bola com o joelho direito ajeitando para finalizar com precisão com a perna esquerda foi magistral. A nova formação tática do time com Endrick formando dupla com outro atacante fez muito bem ao garoto, com mais espaço para usar sua incrível velocidade e habilidade. Antes, Endrick tinha um posicionamento fixo, de centroavante, de costas para o gol, ou de ponta.

Atacante Endrick, do Palmeiras, comemora gol contra o Botafogo no estádio Nilton Santos - Cesar Greco - 1.nov.2023/Palmeiras

Dizer que Abel Ferreira deveria ter escalado Endrick como titular há mais tempo é uma crítica insensata. Ao contrário, Abel agiu corretamente ao preservar o jovem, pois ele entrava durante o jogo e geralmente atuava mal.

A atuação de Endrick contra o Botafogo pode se tornar um marco, o inicio de uma fenomenal carreira, que brevemente continuará no Real Madrid, já contratado. Mas ainda é cedo para se prever até onde ele poderá chegar. Haverá muitas pedras no caminho.

Vi e vivi reações espetaculares no futebol. Em 1966, na final da Taça do Brasil, o Santos de Pelé, o melhor time do mundo, ganhava por 2 a 0 no Pacaembu e, no segundo tempo, o Cruzeiro venceu por 3 a 2.

As grandes viradas do placar e tantos outros fatos espetaculares e inesperados ocorrem por inúmeros motivos, conhecidos e desconhecidos, previstos e surpreendentes. Tentar explicar o inexplicável com uma única razão, por melhor que sejam os argumentos, é uma tentativa soberba e falaciosa.

Na quinta-feira, durante o jogo entre São Paulo e Cruzeiro, Alison se preparava para ser substituído quando outro jogador se contundiu e ele teve de continuar. Alison deu o passe do gol da vitória por 1x0. O acaso esteve novamente presente. O Cruzeiro, mais uma vez, jogou bem e perdeu porque não fez gol.

"Tudo parece fácil e concatenado quando ganhamos, tudo parece disperso e difícil quando perdemos. No entanto, é por tão pouco que se ganha e se perde. O apito final estabiliza violentamente aquilo que, no transcorrer do jogo, parece um rio catastrófico de mil possibilidades, a nos arrastar com ele". (Nuno Ramos).

Tive na vida várias fases de tentar explicar tudo. Quando era atleta só entendia alguns lances após as partidas. Executava sem saber e sem compreender. É o saber inconsciente. Sabia, mas não sabia que sabia.

Quando formei em medicina e tornei-me professor, achava que podia explicar todos os sintomas e detalhes que ocorriam com os pacientes. Com o tempo, percebi que quanto mais estudava, trabalhava e sabia, mais precisava aprender.

Como comentarista, especialmente na televisão, por ficar mais exposto e avaliado pelos telespectadores, tentava explicar tudo o que acontecia em um jogo. Futebol é muito complexo, nós é que tentamos simplificá-lo com racionalizações. Pior é não ter nada para explicar. Pior ainda é explicar sem saber. Algumas vezes damos muita importância a fatos que têm pouca ou nenhuma importância.

"Os que têm estudo explicam a claridade e a treva, dão aulas sobre os astros e o firmamento, mas nada compreendem do Universo e da existência, pois bem distintos no explicar é o compreender e quase sempre os dois caminham separados" (João Ubaldo Ribeiro, o albatroz azul).

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