Vaivém das Commodities

A coluna é assinada pelo jornalista Mauro Zafalon, formado em jornalismo e ciências sociais, com MBA em derivativos na USP.

Salvar artigos

Recurso exclusivo para assinantes

assine ou faça login

Vaivém das Commodities

Para empresário do agronegócio, Brasil tem futuro promissor, mas precisa de ajustes

Mario Sergio Cutait, da MCassab, diz que o Ministério da Agricultura deve ser mais orientativo e menos limitativo

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

O desafio do Brasil para os próximos anos será o de produzir mais, usando menos e a um custo acessível, tanto para o consumidor interno como para o externo.

O caminho é o da pesquisa e da inovação, uma vez que a competição pela matéria-prima entre alimentos para o ser humano, para animais e para energia renovável vai aumentar cada vez mais.

Criação de suínos em Colina (SP) - Edson Silva - 15.jul.11/Folhapress

Esses desafios passam pela produção de alimentos saudáveis e com respeito ao meio ambiente. É assim que Mario Sergio Cutait, diretor e acionista da MCassab, vê o país nos próximos anos. A empresa, de capital nacional, se prepara para o seu centenário.

A produção seguirá crescendo, embora com volatilidade de custos e de preços, mas o país ganhará novos mercados.

Os avanços, no entanto, passam tanto pelas ações de governo como pelas de produtores e de indústrias.
Do lado do produtor, o empresário afirma que não há mais espaço para a mentalidade de que o país não precisa fazer mais nada porque os importadores de alimentos vão ter de recorrer ao Brasil para se alimentar.

Do lado das indústrias, os setores têm obrigação de municiar o governo, antecipando desafios e necessidades de política econômica.

Quanto aos novos governantes, o empresário já vê alguns desvios de percurso na esfera estadual, como a tributação no campo. Logística e segurança sanitária devem estar entre as prioridades.

Na área federal, o governo de Luiz Inácio Lula da Silva deverá garantir segurança jurídica e da propriedade. Além disso, assegurar acessibilidade a novos mercados, ter presença com protagonismo nos fóruns internacionais, onde se discute sustentabilidade, e manter o equilíbrio fiscal.

A pandemia trouxe um cenário mais desafiador para as multinacionais. Elas estão revendo o conceito de megafábricas, instaladas principalmente em grandes mercados, como o da China, para abastecer o mundo todo.

A crise internacional na logística faz as empresas reverem esse conceito e pensar em fábricas regionais. Vão escolher países com estabilidade regulatória, logística eficiente, estabilidade tributária e custo de matéria-prima competitivo.

O Brasil precisa avançar nesses quesitos para se tornar um centro atrativo. "Senão, vamos continuar vendo ocorrer exatamente o contrário. Dói ver uma Ford indo embora do país", afirma ele.

Cutait aposta no Brasil. A MCassab, voltada para a nutrição e saúde animal, está investindo R$ 170 milhões em Jarinu (SP). O novo complexo industrial ocupa uma área de 55 mil m² e dobra a capacidade anual de produção e de armazenamento do grupo.

Com a nova unidade industrial, a MCassab Nutrição e Saúde Animal quer dar um salto em especialidades, se dedicando ainda mais às pesquisas e ao desenvolvimento de produtos de alto valor agregado e de inovação. Apenas em laboratórios são 2.000 m² de área construída.

Cutait prevê uma forte evolução da demanda por proteínas, um setor que dá sustentação ao seu negócio.

O consumo no Brasil, hoje perto de cem kg por ano per capita, ainda tem espaço para crescer, e novos mercados externos vêm surgindo com força.

Alguns países, como Arábia Saudita, Rússia e China, estão em busca de uma autossuficiência, mas ainda vão continuar dependentes de produtos brasileiros.

O Brasil não pode esquecer o mercado chinês, mas a China também não pode ficar sem o mercado brasileiro. Somam-se a isso as portas que se abrem na Índia, na Indonésia, na Tailândia e nos países da África.

O diretor da MCassab diz que faz um investimento para longo prazo. Presente há quase duas décadas na Argentina e na China, o empresário aposta muito também no mercado indiano.

Ele vê uma necessidade de mudança de postura do estado na política econômica. Na avaliação da MCassab, o papel do governo deve ser orientativo para que os projetos industriais sejam adequados já no papel. Mas, ao contrário, o Estado mantém um papel limitativo.

O Ministério da Agricultura deveria ser mais orientador e menos fiscalizador. Se isso fosse colocado em prática, os custos seriam bem menores.

O governo tem de adotar planos de políticas de desenvolvimento de 20 anos, fazendo ajustes quando necessários. Onde plantar, tecnologias mais apropriadas, seguro rural, estimativas de demanda e outros pontos importantes, coisas que China e Estados Unidos fazem muito bem.

Para o empresário, hoje não há planejamento. Ele diz, no entanto, que é obrigação do setor privado levar para os órgãos públicos uma visão de futuro da atividade.

Já o governo deve delegar mais responsabilidade ao setor privado, principalmente no autocontrole. O setor público anda a uma velocidade de 100 km/h, e o setor privado, a 200 km/h. O setor público nunca vai acompanhar o privado.

"O autocontrole vai aumentar a responsabilidade das empresas, e é meu interesse atender a meus clientes com produtos seguros. Quero dormir tranquilo", diz ele.

O agronegócio é um setor com vocação exportadora. Portanto, é necessária a abertura de novas portas para o produto brasileiro. E isso passa também por uma política de governo.

Estados Unidos, França e outros países que disputam o mercado internacional, quando estão em uma mesa de discussão, têm um especialista para cada setor. No caso brasileiro, um técnico tem de dominar todas as áreas.

O importante para empresas e para o país é não depender de um único produto e de um só mercado, afirma o empresário.

LINK PRESENTE: Gostou deste texto? Assinante pode liberar cinco acessos gratuitos de qualquer link por dia. Basta clicar no F azul abaixo.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.