Vaivém das Commodities

A coluna é assinada pelo jornalista Mauro Zafalon, formado em jornalismo e ciências sociais, com MBA em derivativos na USP.

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Dependência do Brasil por vendas à China continua grande

Visita de Lula ao país deve estreitar ainda mais as relações entre os dois mercados

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A dependência do agronegócio brasileiro de compras da China continua grande. Nos últimos anos, os chineses vêm diversificando as compras e aumentando o leque de produtos adquiridos no Brasil.

Essa relação comercial entre os dois países deve aumentar, uma vez que o Brasil continua sendo uma das principias fontes de matérias-primas agropecuárias para o mundo e os chineses têm demandas que não conseguirão suprir internamente.

A visita do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ao país asiático nesta semana deverá estreitar ainda mais as relações entre os dois mercados, uma vez que o governo anterior sempre teve uma relação belicosa com os chineses.

Não fossem a atuação da então ministra da Agricultura, Tereza Cristina, e as pressões do próprio agronegócio, as relações entre os dois países estariam mais esgarçadas.

Nos últimos dez anos, as exportações brasileiras do agro para a China somaram US$ 302 bilhões, ante US$ 44,5 bilhões dos dez anos imediatamente anteriores.

Os chineses estão sendo importantes para o desenvolvimento de várias culturas no Brasil, principalmente a da soja. Em 2000, compraram 1,78 milhão de toneladas da oleaginosa. No ano passado, foram 53,6 milhões, segundo a Secex (Secretaria de Comércio Exterior).

Mais recentemente, por necessidade de reposição de demanda interna, os chineses descobriram também as carnes brasileiras, acelerando em muito as compras.

No ano passado, ficaram com 43% das vendas externas brasileiras de carnes "in natura". Gastaram US$ 10,4 bilhões com a proteína nacional.

Frigorífico em Promissão, São Paulo01/03/2023REUTERS/Paulo Whitaker
Frigorífico em Promissão, no estado de São Paulo - Paulo Whitaker/Reuters

A entrada dos chineses no mercado brasileiro de carnes ocorreu por dois motivos básicos. A ascensão de boa parte da população para um padrão de maior renda elevou a necessidade de proteínas.

Além disso, os chineses passaram por um período de forte crise sanitária na produção de proteínas, e o Brasil se destacou como o principal fornecedor para eles. O Brasil tem quantidade e preços acessíveis.

Uma das dificuldades enfrentadas pelos chineses foi o retorno da gripe aviária, obrigando o país a elevar as importações.

Em 2014, compraram 227 mil toneladas de carne de frango do Brasil. Em 2021, o volume atingiu 639 mil toneladas.

A peste suína africana de 2018 desestruturou a produção dessa carne. Maiores consumidores mundiais, os chineses tiveram de recorrer ao mercado externo.

Em 2014, tinham pouca participação no mercado brasileiro. Em 2018, compraram 156 mil toneladas, volume que foi aumentando anualmente até chegar a 511 mil, em 2021.

O consumo de parte das carnes suína e de frango foi substituído pela bovina, cuja demanda cresceu também pelo aumento de renda dos chineses. Em 2014, o Brasil exportava 106 toneladas de carne bovina para a China. No ano passado, foi 1,24 milhão de toneladas.

Os chineses passaram a ser os principias importadores de proteínas do Brasil, deixando por aqui US$ 10,4 bilhões em 2022 com a compra de 2,2 milhões de toneladas.

Buscando reduzir a dependência norte-americana, devido a atritos acentuados no governo de Donald Trump e que continuam com Joe Biden, os chineses liberaram as importações de milho do Brasil e estão entrando forte nesse mercado.

No primeiro bimestre do ano, já compraram 1,1 milhão de toneladas do cereal brasileiro, ficando com 13% do volume exportado pelo Brasil no período.

Nessa diversificação de importações, elevaram-se também as compras de açúcar. O volume subiu de 1,25 milhão de toneladas, em 2010, para 4,3 milhões, no ano passado.

A desestruturação recente do mercado de óleos vegetais, trazida tanto pela pandemia como pela invasão da Ucrânia pela Rússia, colocou a China também no mercado brasileiro desse produto. Em 2021, ficaram com 24% do óleo de soja exportado pelo Brasil, participação que caiu para 6% em 2022.

Os chineses continuam importantes também em produtos do agronegócio não relacionados à alimentação. Compraram 8,85 milhões de toneladas de celulose no ano passado, bem acima dos 2 milhões de 2010.

As lavouras brasileiras de algodão se expandiram também devido ao mercado asiático. Em 2022, apesar da pisada no freio nas compras, a China adquiriu 522 mil toneladas, 28% do produto exportado pelo Brasil.

Na visita desta semana à China, o governo brasileiro espera reduzir os trâmites para exportações e importações, uma vez que o Brasil é dependente de vários insumos agrícolas exportados pelos chineses.

Uma das discussões do Ministério da Agricultura será sobre a liberação das exportações de carne bovina e a mudança do protocolo que obriga a suspensão toda vez que aparece uma caso suspeito de vaca louca no país.

Há um consenso no mercado de que a interrupção das exportações é necessária e mostra a transparência do sistema de controle sanitário brasileiro.

Essa interrupção, no entanto, deveria ser localizada, limitando-se a frigoríficos próximos da área de ocorrência da doença enquanto o caso é avaliado pelos laboratórios.

A China faz grandes investimentos internos e em outros países, principalmente na África, para deduzir a dependência alimentar.

A dependência dos chineses do Brasil, no entanto, perdura, uma vez que a demanda cresce e o espaço para a agropecuária fica cada vez mais restrito no país asiático. Eles apostam muito, no entanto, na pesquisa e na tecnologia para reduzir essa dependência.

O Brasil também manterá dependência do país asiático, principalmente em insumos. As importações de adubo somaram 6 milhões de toneladas no ano passado, ao custo de US$ 2,1 bilhões. Os gastos com agroquímicos atingiram US$ 350 milhões.

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Maquina pulveriza pesticida em monocultura de soja no norte de Minas Gerais - Ana Bottallo - 21.fev.22/Folhapress

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