Vaivém das Commodities

A coluna é assinada pelo jornalista Mauro Zafalon, formado em jornalismo e ciências sociais, com MBA em derivativos na USP.

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Adversidades climáticas reduzem potencial de produção do trigo

Chuvas e calor intensos facilitam chegada de pragas e de doenças

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O ano de 2023 não repete o bom desempenho da safra de trigo de 2022, quando o país atingiu o recorde de 10,6 milhões de toneladas produzidos.

Os bons preços do ano passado incentivaram os agricultores, que semearam uma área recorde com o cereal neste ano. O cenário de 2023 para o produtor, no entanto, está bem diferente do de 2022.

Externamente, os preços caíram, após a forte aceleração provocada pela invasão da Rússia na Ucrânia. Os dois países são exportadores.

Lavoura de trigo no Leste do Paraguai - Mauro Zafalon/Folhapress

Internamente, os efeitos da crise climática afetam as lavouras do Rio Grande do Sul e do Paraná, os dois principais estados produtores. A safra de trigo vai ser grande, mas a qualidade do cereal vem sendo afetada por clima, doenças e pragas, devido à alternância do excesso de chuvas e de calor intenso.

Boa parte da produção não atingirá o padrão de farinha para o consumo humano e deve virar ração. O produtor, que teve uma safra com custos mais elevados, terá volume, mas um produto de menor qualidade e valor mais baixo.

Carlos Hugo Godinho, analista de trigo do Deral (Departamento de Economia Rural) do Paraná, diz que o preço do trigo está caindo em uma safra em que os custos de produção foram elevados.

A saca de trigo está sendo negociada, em média, a R$ 50, um valor que não cobre os custos de produção, afirma ele.

A mais recente estimativa do Deral indicava uma área de 1,41 milhão de hectares semeados no estado, com potencial de 4,2 milhões de toneladas. A produtividade esperada, acima de 3 toneladas por hectare, não está se confirmando. Segundo Godinho, à medida que a colheita avança, os dados mostram que a cultura está respondendo mal às chuvas ocorridas durante o desenvolvimento das lavouras.

O mais recente acompanhamento do Deral indicava 2,95 toneladas por hectare. Ao final da safra —a colheita atingiu 70% nesta semana—, esse número deverá ser ainda menor, segundo o analista.

Apesar dos problemas climáticos e dos efeitos das pragas e das doenças, o Paraná ainda deverá produzir uma safra recorde.

Godinho acredita que o volume estimado de 4,2 milhões de toneladas, mesmo que apresente um novo recuo, ainda ficará acima do recorde anterior, de 3,8 milhões.

Os preços baixos inibem a comercialização. No ano passado, metade do trigo produzido no Paraná já estava comercializado. Neste ano, o volume não chega a um terço.

O atraso nas vendas pode afetar ainda mais os produtores, uma vez que o cereal vai ter de disputar espaço nos armazéns com o milho e com a soja, afirma Godinho.

A situação no Rio Grande do Sul não é muito diferente da do Paraná. Chuvas fortes, intercaladas com calor intenso, afetam a qualidade e a produtividade do cereal.

A colheita atingiu apenas 1% no estado, enquanto 54% das lavouras ainda estão em fase de enchimento de grãos e 23% em floração. O clima bastante úmido tem favorecido o aparecimento de doenças fúngicas, segundo a Emater/RS.

Em algumas áreas do estado, o produtor já liberou as lavouras para a pastagem de gado. Em outras, ocorre um tombamento da planta devido ao excesso de umidade.

A crise climática provoca uma redução do potencial produtivo, e a produtividade deverá ficar abaixo das 3,26 toneladas esperadas para esta safra.

A maturação está anormal, as espigas, esbranquiçadas, e há falhas na formação dos grãos em parte do estado, segundo a Emater/RS.

A Conab (Companhia Nacional de Abastecimento) estima uma safra de 4,7 milhões de toneladas neste ano no Rio Grande Sul, 17% a menos do que em 2022, e uma produção de 4,3 milhões no Paraná, um aumento de 22%.

A produção mundial de 2023/24 fica em 790 milhões de toneladas, e os estoques finais, em 259 milhões. Os números são próximos dos de 2022/23.

A tonelada de trigo recuou para R$ 1.013 no mercado paranaense nesta quarta-feira (4), com queda de 1,2% no mês. No Rio Grande do Sul, o recuo é de 4,4%, com o cereal sendo negociado a R$ 1.041, segundo o Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada).

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