Vaivém das Commodities

A coluna é assinada pelo jornalista Mauro Zafalon, formado em jornalismo e ciências sociais, com MBA em derivativos na USP.

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Alta de preços no campo reduz ritmo de queda de alimentos na inflação

Após forte retração neste ano, produtos agropecuários reagem em outubro

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Os preços dos alimentos voltaram a subir no campo neste mês, mas ainda estão bem distantes do patamar elevado de há um ano. Em outubro, oito deles tiveram reajustes em relação a setembro, considerada a média dos preços. Quatro estão em queda. Na comparação de 12 meses, apenas açúcar e arroz estão com aceleração.

A recuperação de preços neste mês ocorre porque há oferta menor de vários produtos e continuidade da demanda, principalmente a vinda do exterior. Os preços externos recuam, na média, mas em alguns produtos, como arroz e açúcar, servem de pressão para alta interna.

Esse acerto de preços deverá reduzir o ritmo de queda dos alimentos no índice de inflação. Pesquisa da Fipe (Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas) já indica essa tendência. No final de setembro, os alimentos tiveram uma deflação média de 0,78% para os paulistanos. Na segunda quadrissemana (últimos 30 dias até 15 de outubro), a queda é de 0,34%.

Feira em São Paulo; em setembro, alimentos tiveram uma deflação média de 0,78% para os paulistanos - Miguel Schincariol - 2.out.2022/AFP

O clima será um componente importante nessa evolução de preços. A safra de 2023 foi recorde, e a de 2024 também promete ficar próxima à deste ano. O clima, no entanto, é um fator de incerteza e pode interferir na produtividade.

A colheita de trigo, um produto básico no dia a dia do consumidor brasileiro, começa a ficar comprometida por temperaturas elevadas e excesso de chuva no Rio Grande do Sul. Esses fatores afetam a qualidade do cereal, permite o alastramento de doenças e reduz a produção.

Algumas consultorias, que previam um volume próximo de 11 milhões de toneladas neste ano, já reduziram as estimativas de produção nacional de trigo para 10,4 milhões. Até o Paraná, menos afetado por chuvas e que faz uma colheita anterior à do Rio Grande do Sul, está colhendo um volume menor do que se previa.

Além de colher menos, o produtor encontra uma realidade de preços bem diversa da de um ano atrás, quando a tonelada estava a R$ 1.782. Neste mês, a comercialização é feita a R$ 1.016 no Paraná, segundo o Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada).

O milho, com uma demanda externa muito forte, também recupera preços, mas com valores muito abaixo do esperado pelo produtor. A saca do cereal saiu de R$ 53, em agosto, para os atuais R$ 59. Em outubro de 2022, no entanto, valia R$ 85.

A produção brasileira foi recorde, mas as exportações têm um ritmo acelerado, inclusive com compras da China, que antes adquiria boa parte do cereal dos americanos.

A soja também tem recuperação de preço. Negociada, em média, por R$ 128 em junho, a saca está em R$ 137 neste mês. Há um ano, a pesquisa do Cepea indicava R$ 180 no Paraná.

As estimativas de área e de produção são recordes para o período 2023/24. Excesso de chuvas no Sul e calor intenso e irregularidade delas em Mato Grosso atrasam o plantio. Para a AgRural, foram semeados 30% da área, mas ainda é um plantio de risco devido a esses fatores climáticos.

As carnes também mostram recuperação, após forte retração nos preços. A principal queda ocorreu na arroba de boi que, após ser negociada a R$ 338 no início de 2022, caiu para R$ 212 no mês passado. Neste mês, voltou a R$ 238, devido à baixa oferta de animais.

A forte retração da proteína no mercado internacional ajudou nessa queda interna ocorrida nos últimos meses. A tonelada caiu de US$ 5.847 no mercado internacional, em outubro do ano passado, para os atuais US$ 4.591, conforme valores divulgados nesta segunda-feira (23) pela Secex (Secretaria de Comércio Exterior).

O frango resfriado, com demanda aquecida e ajuste na produção, saiu dos R$ 5,82 por quilo, em julho, para R$ 7,24 neste mês. Valor ainda inferior aos R$ 8,05 de há um ano.

A carne suína, que mantém bom patamar de exportações, voltou a subir, mas ainda tem preços inferiores aos de há um ano, quando quilo era comercializado a R$ 7,17 nas granjas paulistas.

O leite está com queda real de 14% neste ano, segundo o Cepea. A captação em setembro ainda esteve em queda e as importações recuaram 22%. A oferta interna de leite é boa, em vista do menor poder aquisitivo dos consumidores e da consequente queda dos preços ao longo da cadeia produtiva.

O café, com uma das principais desacelerações no setor, está sendo negociado a R$ 816 por saca do tipo arábica. O valor é um pouco superior ao de setembro, mas bem abaixo dos R$ 1.483 do início de 2022.

Arroz e açúcar puxam a fila das altas, e ambos refletem preços externos aquecidos. O cereal, além de estoques internos menores, tem o plantio afetado pelo excesso de chuvas no Rio Grande do Sul, principal estado produtor.

Externamente, a demanda está aquecida e a oferta internacional de arroz é menor, dando espaço para um volume maior das exportações brasileiras. A saca de arroz, que há um ano estava em R$ 79, já é negociada, em média, por R$ 103 no Rio Grande do Sul.

O açúcar também vai chegar com custo maior para os consumidores. A saca teve uma valorização de 24% nos últimos 12 meses nas usinas, conforme o Cepea. A elevação internacional dos preços traz vantagens para as usinas comercializarem o produto no mercado externo.

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