O potencial inicial de produção de soja na safra 2023/24 era de 169 milhões de toneladas, conforme estimativa feita em setembro pela Agroconsult.
Nesta quinta-feira (18), a consultoria reduziu esse potencial para 154 milhões. São 15 milhões a menos, por ora. A queda se deve a adversidades climáticas, provocadas principalmente pelo El Niño.
A Agroconsult, como faz todo ano, está nas lavouras de soja com o Rally da Safra, uma expedição de técnicos que avaliam o potencial de produção da oleaginosa.
É um ano preocupante e que está sendo olhado com atenção por produtores, fornecedores de insumos e instituições financeiras.
André Pessôa, presidente da Agroconsult, diz que o clima afeta a agricultura, mas o setor está voltando para um "novo normal", que é o "velho normal" das tradicionais taxas remuneradoras.
Os anos recentes foram de margens de lucro boas e aumento de áreas de produção. Nesta safra, pela primeira vez, a expansão de área nova fica abaixo de 1 milhão de hectares.
Haverá uma mudança de ritmo da expansão, onde a busca por maior produtividade, via tecnologia, vai representar ganhos maiores do que a abertura de novas áreas.
Essa mudança de ritmo não é uma questão de clima, mas de caixa, afirma Pessôa. As margens boas dos últimos anos fizeram o produtor investir mais e aumentar o aperto no fluxo de caixa. As dívidas continuam, e a queda atual das margens afeta ainda mais esse fluxo de recursos.
O ponto mais crucial atualmente é que, além da queda de produção, o horizonte de preços não é favorável. O produtor terá menos soja para vender e a um preço bem menor do que o do recorde registrado nos anos anteriores.
Ricardo França, da área agrícola do Santander, diz que é preciso ver até onde vão esses preços. A saúde financeira do produtor vai depender muitos dessa evolução e de como ele se preparou para a safra.
Quem comprou bem os insumos vai manter rentabilidade, mas ainda é um pouco cedo para uma avaliação. França cita o exemplo do Rio Grande do Sul, onde a renda está voltando com o retorno da produção no estado, após várias safras frustradas.
Não só os preços estão instáveis, mas também a produtividade. Esta será a safra com a maior variabilidade de produção. Na mesma propriedade, o produtor vai obter rendimentos bem diferentes entre os diversos talhões, segundo André Debastiani, coordenador do Rally da Safra.
Se a demanda mundial por alimentos crescer muito, o ajuste terá de ser feito pela produtividade. Não é só ela, no entanto, que pode impor restrições ao crescimento do setor, afirma Pessôa.
Ele aponta, ainda, entraves vindos da logística, balanços da empresas, quanto cabe de novos investimentos no caixa e até das sucessões.
O DESTAQUE DE GOIÁS NO CAFÉ
Goiás deverá ser o destaque na safra de café deste ano. O estado é pouco representativo na produção total do país, mas estará em evidência pelo crescimento da área dos cafezais e pela boa produtividade.
A produção goiana aumentará 27% nesta safra, devido a crescimento de 9% na área colhida e a aumento de 16% na produtividade. O volume a ser colhido se limita a 256 mil sacas, mas a produtividade do estado será a maior do país.
Minas Gerais, maior produtora de café, terá uma produtividade de 26 sacas por hectare, enquanto a de Goiás atingirá 44 sacas. A média brasileira é de 30 sacas.
Esse bom crescimento da produção em Goiás se deve à bienalidade positiva deste ano, aliada à entrada de cafezais mais novos, o que aumenta a média da produtividade.
Os dados são da Conab (Companhia Nacional de Abastecimento), que informou, ainda, o volume de café estimado para a safra 2023/24. O país deverá produzir 58,1 milhões de sacas de café beneficiado, o maior volume desde os 63 milhões de 2020.
A produção de café arábica sobe para 40,7 milhões de sacas, com avanço de 4,7%, e a de conilon aumenta 7,2%, somando 17,3 milhões de sacas.
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