Vaivém das Commodities

A coluna é assinada pelo jornalista Mauro Zafalon, formado em jornalismo e ciências sociais, com MBA em derivativos na USP.

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Descrição de chapéu Chuvas no Sul

Compra brasileira de arroz inflaciona preço mundial, diz analista

Importações inibem avanço do plantio e reduzem oferta do cereal em 2025

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Um mês após o início das fortes enchentes no Rio Grande do Sul, a avaliação do mercado é que o governo exagerou nas medidas anunciadas com relação ao arroz.

O anúncio de compra externa de até 1 milhão de toneladas do cereal acabou inflacionando tanto os preços internos quanto os externos. Até as instituições mundiais que compram arroz para distribuição humanitária viram uma aceleração de preços, o que diminui a capacidade de compra delas.

Lavoura de arroz do MST em Viamão, no Rio Grande do Sul
Lavoura de arroz do MST em Viamão, no Rio Grande do Sul - Divulgação/MST-RS

Vlamir Brandalizze, analista do setor de cereais, diz que o volume de 1 milhão de toneladas representa 2% de todo o comércio mundial anual. Isso representa muito para o mercado externo, uma vez que a produção mundial está estagnada e a população cresce ano a ano.

Se o anúncio tivesse sido de 100 mil toneladas, como deverá acontecer nesta primeira compra escalonada, os reflexos nos preços mundiais seriam pequenos, segundo o analista.

O consumidor brasileiro paga um dos menores preços pelo cereal no mundo e as importações vão exigir muito subsídio do governo. Além dos custos dessa importação, as compras externas podem afetar a oferta do produto nacional no próximo ano. O produtor dos estados centrais está animado e há uma previsão de aumento de área semeada nessas regiões.

O produtor do Rio Grande do Sul também elevará a área dedicada ao cereal, prevê o analista, que não acredita em desabastecimento no país.

Após a corrida aos supermercados neste mês, os consumidores vão comprar menos em junho e em julho, mês em que tradicionalmente há uma queda nas compras devido às férias. Com isso, os preços devem acomodar.

Lavoura de arroz do MST afetada pela chuva no Rio Grande do Sul
Lavoura de arroz do MST afetada pela chuva no Rio Grande do Sul - Divulgação/MST-RS

A concorrência do produto externo pode desestimular o produtor brasileiro, que, diante da ameaça do arroz importado, reduziria a área de plantio, afetando a oferta do cereal em 2025.

As vendas recordes de maio provocaram uma corrida das indústrias em busca de arroz para processar e atender ao varejo. Os preços subiram e vão para a inflação.

É o que aponta a Fipe (Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas) nesta segunda-feira (27). Os preços do arroz, que estavam com queda de 2,24% na primeira quadrissemana deste mês, recuaram apenas 0,3% na terceira.

Mesmo quando sobem rapidamente nos supermercados, os preços demoram a ser incorporados no índice de inflação. A Fipe compara os preços médios das últimas quatro semanas com a média das quatro imediatamente anteriores. Quando entra uma semana nova, sai a mais antiga da lista.

Este é o segundo pico dos preços do arroz nos últimos meses. Na entressafra do final do ano passado, a saca de arroz em casca atingiu R$ 127, em média, em dezembro. Recuou para R$ 100 em março e subiu para R$ 113 neste mês. Neste final de maio, já está em R$ 122, com alta de 13% em relação ao final de abril.

No Paraguai, a tonelada do cereal subiu para US$ 820, com alta de 26% no mês; na Tailândia, foi a US$ 664 (mais 8%), e, no Vietnã, a US$ 592 (mais 2%). O produto americano, de melhor qualidade, chega a US$ 900 por tonelada.

O arroz de padrão médio está sendo negociado a R$ 6,50 por quilo no varejo brasileiro. Com base nos preços externos, o governo gastaria um valor próximo a R$ 9 por quilo nas importações. O subsídio será grande, uma vez que ele terá de repassar o cereal por um valor menor para o varejo.

É uma hora ruim para importações, segundo Brandalizze. Além de o arroz estar caro, a oferta de trigo também é mais restrita devido a problemas nas safras da Rússia, da Ucrânia, do Leste Europeu e dos Estados Unidos. Os dois cereais são complementares.

O país não terá desabastecimento de arroz. A safra gaúcha, prevista inicialmente em 7,5 milhões de toneladas, fica em 7 milhões. É o mesmo volume de 2023, afirma Brandalizze.

Outro fator de oferta interna é a queda no volume a ser exportado neste ano. Recorde em 2023, ao ficar próxima de 2 milhões de toneladas, a venda externa deste ano será de 1 milhão, afirma o analista.

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