Vaivém das Commodities

A coluna é assinada pelo jornalista Mauro Zafalon, formado em jornalismo e ciências sociais, com MBA em derivativos na USP.

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Vaivém das Commodities
Descrição de chapéu China

Ásia se mantém como principal caminho para o agronegócio do Brasil

Região fica com 92% do trigo, 81% da soja, 45% das carnes e 56% do milho do país

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Os caminhos da Ásia são os mais promissores para o agronegócio brasileiro. E vão continuar assim. Há duas décadas, os chineses imprimiram um ritmo forte às importações de soja brasileira, e as compras do país asiático ficaram praticamente concentradas nesse produto.

A China, que completa 50 anos de relações comerciais com o Brasil, diversificou muito suas compras no Brasil nos anos recentes. Quando se previa uma acomodação dessa evolução, entraram em ação outros países da região no mercado brasileiro.

Da receita de US$ 98 bilhões de produtos do setor agropecuário e seus derivados exportados pelo Brasil neste ano, 52% vieram dos países asiáticos. Se retirada a China dessa conta, os demais países da região vêm elevando as compras. Atualmente, elas superam em 77% as de há dez anos.

Alguns números eram difíceis de serem imaginados há pouco tempo. Das exportações brasileiras deste ano, 92% do trigo foram para a Ásia, que recebeu, ainda, 88% do algodão, 80% do óleo de soja e 44% do farelo.

A soja mantém a liderança em volume e em valores, uma vez que 81% do produto exportado pelo país segue para os países asiáticos. Novos itens, contudo, entram nessa lista de interesse. No ano passado, em um cenário inédito, 56% do milho que saiu dos portos brasileiros foi para a Ásia.

Navio carregado com soja para a China no porto de Santos - Paulo Whitaker/Reuters

Um dos destaques são as carnes. Pelo menos 45% das proteínas animais vendidas para o exterior neste ano foram absorvidas pelos países da região, segundo dados da Secex (Secretaria de Comércio Exterior).

Em encontro na semana passada em São Paulo, a cadeia de proteínas comemorava a participação dos asiáticos no setor. Antonio Jorge Camardelli, presidente da Abiec (Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne), destacava o bom momento do setor.

As exportações de carne bovina atingiram o recorde de 268 mil toneladas em julho, e a China ficou com 123 mil desse volume. Em uma linha do tempo recente, apenas as importações da China do mês passado superaram o volume total do que o país colocava mensalmente no mercado externo.

Luis Rua, diretor de mercados da ABPA (Associação Brasileira de Proteína Animal), vê bom cenário também para suinocultura e avicultura. Competitividade do produto nacional e aumento de renda nos países asiáticos garantem uma boa evolução para o setor.

Mesmo com a recomposição da produção chinesa, passados os efeitos da peste suína africana no país, as importações do maior consumidor mundial vão continuar. O volume importado pelos chineses de carne suína é o dobro do que o Brasil exporta, e os europeus, tradicionais fornecedores para a Ásia, perdem força na produção e na exportação.

Os asiáticos aumentam a presença no mercado brasileiro de grãos e de proteínas devido à evolução das economias da região. Mais emprego e mais renda elevam os cuidados com a saúde e possibilitam melhores condições alimentares.

O bom desempenho começou com os chamados tigres asiáticos, países, no entanto, que pouco participaram do agronegócio brasileiro. Só agora estão entrando mais fortemente no Brasil.

A China foi a grande alavanca na região e começa a ser seguida por várias outras nações: Singapura, Indonésia, Malásia, Índia e, mais recentemente, Bangladesh e Filipinas.

Plantação de arroz em Sekinchan, Malásia - Hasnoor Hussain/Reuters

No início dos anos 2000, a Ásia participava com 14% das exportações do agronegócio brasileiro. No ano passado, gerou mais da metade das receitas obtidas pelo Brasil no setor.

A União Europeia, tradicional parceira do Brasil no início do século e responsável pela compra de 36% das exportações brasileiras, recuou para 13%. Os europeus gastam mais com a compra de tabaco no Brasil atualmente do que com a de carnes, uma inversão do que ocorria há duas décadas. A participação da América do Norte caiu de 19% para 8% no período.

A população da Ásia já está em 4,8 bilhões, 59% do total mundial, segundo estimativas do Worldmeter e da ONU (Organização das Nações Unidas). A população cresce, mas a região conseguiu reduzir o patamar de pobreza extrema para uma taxa próxima de 4%.

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Preparação da terra para plantio de tabaco no RS - Adriano Vizoni/Folhapress

Além de renda maior, cresce a parte populacional urbana, o que gera maior demanda alimentar. No início dos anos 2000, 37% da população da Ásia estava nas cidades. Esse percentual subiu para 53% e vai atingir 56% em 2030.

Dependente apenas da soja brasileira há duas décadas, a Ásia eleva o número de produtos que busca no Brasil. Atualmente, há pelo menos dez que têm importância.

Há dez anos, os asiáticos deixaram US$ 25,1 bilhões no Brasil com compras de soja, carnes e cereais. No ano passado, foram US$ 63,6 bilhões com esses produtos. Açúcar, suco e café também estão na lista de interesse dos asiáticos.

O café é uma nova esperança para o mercado brasileiro, devido à demanda crescente na região. O Brasil aumentou exportações para China, Coreia do Sul, Malásia, Taiwan, Indonésia e Vietnã, este o segundo maior produtor mundial.

Fora do quadro de alimentos, os países asiáticos ficam mais dependentes também do algodão e da celulose do Brasil, dois produtos dos quais o país aumenta a produção e a capacidade de oferta mundial.

As exportações de farelo e de óleo de soja, que pareciam inviáveis para a Ásia devido à importação chinesa de apenas soja em grãos, crescem na Indonésia, na Tailândia, em Bangladesh e na Índia.

O trigo do Brasil vai para o Vietnã —que já comprou 1,1 milhão de toneladas do cereal brasileiro neste ano—, para as Filipinas e para a Tailândia.

As exportações brasileiras de milho ganham maior ritmo após o início das compras chinesas, mas Vietnã e Indonésia também avançam no mercado nacional.

Um dos empecilhos para o produto brasileiro são a distância e a sequência de conflitos geopolíticos, o que tem elevado custos dos transportes e dos produtos.

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