Vaivém das Commodities

A coluna é assinada pelo jornalista Mauro Zafalon, formado em jornalismo e ciências sociais, com MBA em derivativos na USP.

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Venezuela despenca de 5º para 34º no ranking de importadores do agro brasileiro

Em dez anos, compras recuam de US$ 2,9 bilhões para apenas US$ 410 milhões

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A Venezuela, que ocupava a 5ª posição no ranking dos maiores importadores do agronegócio brasileiro há dez anos, perdeu espaço e hoje está em 34° lugar.

A desestruturação da economia e a dificuldade de pagamento das importações pelo país vizinho levaram as empresas do Brasil a sair desse mercado.

Em 2014, os venezuelanos chegaram a importar o correspondente a US$ 2,9 bilhões em produtos agropecuários. No ano passado, foram apenas US$ 410 milhões, conforme dados da Secex (Secretaria de Comércio Exterior).

Venezuelanos compram alimentos com preço subsidiado em Caracas - Leonardo Fernandez Viloria/Reuters

O principal setor a abandonar esse mercado foi o das carnes, principalmente o de carne bovina. Em 2014, a Venezuela fez importação de US$ 1,3 bilhão em carnes no Brasil, valor que recuou para US$ 8,6 milhões no ano passado.

As exportações de carne bovina, que somaram US$ 853 milhões há dez anos, desapareceram em 2023. Os venezuelanos eram importantes também na compra de animais vivos dos brasileiros, tanto para engorda como para procriação.

Em 2014, gastaram US$ 560 milhões no Brasil com animais vivos, valor que recuou para apenas US$ 5,6 milhões no ano passado.

Pelos dados da Abiec (Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes), o Brasil exportou 160 mil toneladas de carne bovina para a Venezuela em 2014, o quarto principal mercado do Brasil naquele ano. Em 2023, foram apenas quatro toneladas.

O mercado de carne de frango também teve grande retração para os exportadores brasileiros. As receitas caíram de US$ 423 milhões, em 2014, para US$ 761 mil, no ano passado, conforme a Secex.

O empobrecimento do país vizinho reduziu inclusive compras de produtos básicos, como o arroz. Segundo maior importador do cereal brasileiro há dez anos, os venezuelanos compraram 593 mil toneladas em 2018. No ano passado, porém, o volume caiu para 219 mil toneladas.

Plantação de arroz em Mostardas (RS) - Silvio Ávila/AFP

Nos últimos anos, os venezuelanos mantiveram as importações desse cereal no mercado brasileiro devido a um acordo de garantia da China nas compras feitas no Brasil.

As dificuldades financeiras do país aparecem também nas importações de outros alimentos essenciais no dia a dia do consumidor. Há uma década, a Venezuela comprava 690 mil toneladas de açúcar do Brasil, principal fornecedor mundial desse produto. O volume vem diminuindo e, no ano passado, esteve em 272 mil toneladas.

O setor brasileiro de lácteos também perdeu um mercado importante. Principal importador de leite em pó há uma década, com a compra de 59 mil toneladas, a Venezuela comprou apenas uma tonelada no ano passado.

Importante fornecedor de margarina e de leite condensado, o Brasil viu também o mercado da Venezuela definhar para esses produtos.

As principais importações venezuelanas atualmente são de cereais, com gastos de US$ 242 milhões no ano passado. O país comprou 521 mil toneladas de milho dos brasileiros, 219 mil de arroz e 107 mil de trigo.

O país vizinho continua forte também nas importações de óleo de soja. Vieram buscar 96 mil toneladas no mercado brasileiro no ano passado, ficando com a quarta posição no ranking das exportações brasileiras desse produto.

O recuo da industrialização venezuelana, no entanto, força as compras também de farinhas, pastas, biscoitos, molhos, temperos e outros alimentos industrializados. No ano passado, gastaram US$ 229 milhões no país com esses produtos, segundo a Secex.

A Venezuela tem pela frente vários problemas econômicos para resolver, que passam por inflação, dívida elevada, juros altos, pobreza e sanções comerciais externas.

A inflação, após atingir picos recordes, vem recuando e caiu para 1% ao mês neste ano, segundo dados do governo. Índices independentes também apontam essa redução, mas ainda indicam uma taxa elevada em 12 meses, próxima de 75%.

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