Vinicius Torres Freire

Jornalista, foi secretário de Redação da Folha. É mestre em administração pública pela Universidade Harvard (EUA).

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Vinicius Torres Freire

O Brasil quer ir para os pênaltis

Economia será essa lerdeza até 2019, raiva popular cresce e flertamos com um desastre político

O estado da economia até a eleição será mais ou menos este que podemos ver por agora, pouco mais do que uma estagnação manchada de horrores.

Quer dizer, será isso caso não sobrevenha tumulto financeiro causado por Donald "Nero" Trump ou pela possível vitória de um programa de governo demente na eleição presidencial de outubro.

Poderia ter sido um pouco melhor, mesmo com as expectativas reduzidas pela mediocridade do início do ano. Mesmo a sensação térmica, a experiência do povo comum, poderia vir a mais agradável no terceiro trimestre, que pareceria mais animado do que indicaria o crescimento de apenas.

Os efeitos diretos do caminhonaço e o choque político causado pelo surto nacional de insensatez de maio enterraram o restante das esperanças de crescimento melhorzinho e acelerando. Vamos crescer 1,6%, se tanto, sem tendência de alta relevante até meados do ano que vem. Dá cerca de 0,8% per capita, o que quase ninguém vai perceber.

CAMINHONAÇO

A produção da indústria afundou 11%, soubemos nesta quarta-feira (4) pelo IBGE. Não foi tão ruim quanto se estimava, na média. Assim, aumenta a chance de que tenhamos escapado de uma regressão do PIB neste segundo trimestre.

Há indícios de que em junho as fábricas tenham ao menos compensado as perdas de maio. É um alívio para quem gosta de ver o copo meio limpo.

"Os primeiros indicadores coincidentes (confiança da indústria, utilização da capacidade instalada, dados semanais de comércio exterior e consumo de energia, licenciamento de veículos, entre outros) sinalizam alta de 10,9% dessazonalizada em junho (avanço de 0,9% na comparação anual)", escreveram os economistas do Itaú em relatório sobre o desempenho da indústria.

Para quem vê o copo meio sujo, e lama costuma ser o nosso caso, quer dizer que a indústria terá ficado estagnada por um bimestre inteiro. O impacto do caminhonaço nos negócios de serviços pode até ter sido menor, mas as perdas do setor não se recuperam como na indústria.

O povo estaria de qualquer modo em revolta em outubro, com alguns atenuantes, em particular para o terço mais rico da população.

No que interessa ao cotidiano do cidadão comum, a situação que deve perdurar até fins do ano é a de trabalho precário, contas de energia e combustíveis mais caras e fim do alívio sentido com a baixa rápida da inflação.

O número de pessoas ocupadas cresce mais lentamente. Em relação ao maio do ano passado, o número de empregados com carteira assinada baixou 500 mil. Em relação a 2015, são quase 3,2 milhões a menos.

Tanta gente largada na precariedade ou no desemprego absoluto, além de seus parentes, vizinhos e amigos que temem ter o mesmo destino, é insultada ainda de outras maneiras. Passados mais de quatro anos de Lava Jato, entre outras operações, os casos de corrupção jorram como o esgoto da maioria das cidades brasileiras. Não há trégua no morticínio e noutras violências.

A elite política, o governo, a cúpula do Poder Judiciário e o Congresso estão entretidos nos seus jogos, mumunhas e chicanas. Não se ouve dos candidatos a presidente nada que possa vacinar o povo contra a sedução da peste política.

O país está dando moleza para novo desastre. Já mostrou que é capaz disso, a vez mais recente sendo o paradão de maio. Talvez possamos escapar, mas vai ser nos pênaltis. Alto risco.

vinicius.torres@grupofolha.com.br

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