Vinicius Torres Freire

Jornalista, foi secretário de Redação da Folha. É mestre em administração pública pela Universidade Harvard (EUA).

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Vinicius Torres Freire

Pacto da eleição, além do mercado

Mais que agradar ao dinheiro, candidatos terão de buscar eleitor com ideias diversas

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Os "mercados" reagem a trocas de guarda no poder. Candidatos reagem aos "mercados", enfatizando ou alterando seus programas, como no caso exemplar de Lula em 2002. São clichês, no Brasil e no mundo.

É inevitável prestar atenção ao assunto, até porque o clima esquenta entre os mercadores de dinheiro, em particular depois da facada em Jair Bolsonaro (PSL).

Dadas as características críticas em que ocorre esta eleição, drama econômico e divisão política, ciristas, marinistas, petistas, tucanos e liberais menos votados talvez se vejam logo pressionados a ter uma conversa sobre seus programas, entre si e com os povos do mercado.

Óbvio, mas pouco lembrado, mais que "mercados", candidatos e seus eleitores podem influenciar o programa de adversários, a depender de pactos e coalizões, mesmo as de última hora, como no caso extremo da tentativa de ganhar o "voto útil".

É assunto de vida e morte na disputa de 2018.

Primeiro, porque se trata da campanha eleitoral mais fragmentada da República. A passagem para o segundo turno e a vitória dependem de coalizão, tácita ou explícita.

Segundo, porque candidatos com programas econômicos díspares talvez tenham de dialogar. Ou, ao menos, tenham de tranquilizar e conquistar eleitores com ideias econômicas diversas. Os donos do dinheiro são só parte da conversa.

Terceiro, porque a situação das contas públicas é tão dramática que os candidatos a presidente, a administrar tamanha crise, têm de fazê-lo mesmo antes de tomarem posse. Sendo rigoroso, precisam administrar expectativas mesmo durante a campanha.

As taxas de juros têm subido bem nos mercados. Quanto maior a percepção de que o governo vá se endividar sem limite, mais caro será financiar a dívida pública. Governos sem crédito têm de promover cortes ainda mais brutais de gasto ou recorrer à inflação a fim de pagar as contas (como no Brasil dos anos 1980, da Argentina e, no caso teratológico terminal dos infernos, da Venezuela).

Embora as opções para consertar o desastre sejam a cada ano mais restritas, desde 2013, ainda há espaço para algum debate (mais ou menos impostos?). Ignorar o problema é apenas autodestrutivo. Tanto faz a opinião do eleitor sobre "o mercado" (que é apenas um nome dado a credores do governo e detentores de poupança financeira em geral).

O custo do financiamento de governo, empresas e consumidores apenas aumentará:

1) Quanto mais inacreditáveis as ideias para resolver o problema do déficit e da dívida;

2) Quanto menos capacidade ou apoio políticos tenham os candidatos favoritos.

Fernando Haddad, agora candidato, vai manter o programa do PT quanto a finanças públicas, sua indiferença quanto ao problema do estouro da dívida e da pindaíba do governo? Ciro Gomes (PDT) na prática tem histórico de responsabilidade fiscal (aliás, como o governo Lula 1 teve), mas dá sinais confusos. O programa da isolada Marina Silva (Rede) é praticamente convencional a respeito. O de Geraldo Alckmin (PSDB) é o do manual. Bolsonaro não sabe dizer qual o seu programa fiscal.

Candidatos, alguns desta lista em particular, têm de administrar não apenas expectativas financeiras, sem o que podem assumir um país de economia ingovernável. Mais do que isso, espremidos na disputa por uma vaga no segundo turno, terão de achar um ponto comum com adversários e eleitorados que pensam de modo diverso ou preferem conciliações e meios-termos.

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