Vinicius Torres Freire

Jornalista, foi secretário de Redação da Folha. É mestre em administração pública pela Universidade Harvard (EUA).

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Vinicius Torres Freire
Descrição de chapéu juros

Economia brasileira recebe uma dose de vacina de otimismo

País é bem mais pobre e desigual que em 2013, mas economia pode despiorar mais rápido

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Os economistas do Itaú passaram a prever que a economia vá crescer 5% neste 2021. Estão no extremo do otimismo, consideradas as opiniões do pessoal do mercado compiladas pelo BC. A estimativa mediana era de 3,5% até o fim da semana passada. Mas, além do bancão, humores em geral mudaram desde o início de maio.

Caso o PIB cresça 5% neste ano, a economia de 2021 terá voltado ao mesmo nível de produção e/ou renda de 2019. O Itaú estima que tenha havido crescimento no primeiro trimestre ante o final de 2020; que no primeiro trimestre a economia teria voltado ao nível do início de 2020. Os dados oficiais saem na terça (1º).

Antes de contar mais sobre chutes informados de otimismo, convém lembrar que o PIB per capita no início deste ano ainda era 11,1% inferior ao de 2013, um empobrecimento inaudito na história de que se tem registro. Mesmo crescendo 5%, ainda seremos em média 7,4% mais pobres do que em 2013. Mesmo com a despiora, problemas como desigualdade terão se agravado, o desemprego será alto e a destruição institucional prossegue. Adaptações da produção à epidemia podem ter acelerado mudanças estruturais (ruins) no emprego e na equidade.

Fim do parêntese e do lenitivo para críticos ansiosos.

A economia se mostrou capaz de se adaptar às restrições de movimento e de negócios, em particular durante o horror maior de março e abril. A poupança acumulada no ano passado por ricos e remediados está sendo desovada, o que sustenta o consumo mesmo com o fim dos grandes auxílios e com a massa salarial habitual reduzida. Nos indicadores do Itaú, que retrabalham dados oficiais, ora muito confusos, o emprego formal em março ficou 1% abaixo do nível pré-epidemia e, em abril, apenas 0,4% abaixo.

O aumento do preço das commodities (ferro, grãos, petróleo etc.) exportadas pelo Brasil, ainda mais com o dólar nas alturas, propicia ganhos de renda e incentiva investimentos. A indústria com estoques vazios produz mais —a recuperação do primeiro trimestre virá quase toda da indústria, nas contas do Itaú, com serviços ainda no vermelho profundo.

A dívida pública provavelmente vai cair em relação a 2020 (na medida em relação ao PIB). O que houve? O que costuma ocorrer na história do endividamento público: inflação, juro baixo e crescimento maior diminuem o tamanho relativo (ao PIB) da dívida.

O crescimento do PIB, no caso que interessa aqui, é uma composição de inflação geral (não a do IPCA) e crescimento real (aumento de fato da produção de bens e serviços).

A inflação geral será maior porque, para trocar em miúdos, a carestia no atacado é enorme (por causa de dólar e commodities, grosso modo). A inflação maior impulsionou também a arrecadação de impostos.

A taxa real de juros básica (Selic) ainda está em terreno negativo (olhando para trás) e vai a zero apenas no fim deste ano. A taxa real de juros para frente (ex-ante) saiu do negativo em março, mas ainda está ainda em 1,3% ao ano. O dólar tomou um calmante em meados de abril, basicamente por fatores externos, o que aliviou temores de inflação ainda maior e outros apertos financeiros.

A vacinação é muito lenta, o que retarda a retomada econômica. Mas, como se tem notado nestas colunas, há progresso no atraso —de um ponto de vista frio ou cínico, é melhora na economia.

Há riscos graves adiante: podemos criar variante assassina do vírus, um sururu nos juros americanos nos derruba rápido e podemos encomendar uma crise de energia. Etc.

Mas, tanto na política como na economia, convém prestar atenção à mudança de humor.

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