Vinicius Torres Freire

Jornalista, foi secretário de Redação da Folha. É mestre em administração pública pela Universidade Harvard (EUA).

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Vacinação tem progresso no atraso, mas talvez não salve o Natal

Até sexta, país recebe 100 milhões de doses; há riscos no 3º trimestre

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Até a próxima sexta-feira (28), o governo federal deverá ter recebido mais de 100 milhões de doses de vacinas, provavelmente 103 milhões. Considerando perdas, é o suficiente para dar duas injeções em pouco mais de 49 milhões de pessoas, cerca de 31% da população com 18 anos ou mais no país. É pouco (os EUA estão com 56% agora).

De qualquer modo, vai demorar para chegar lá, nessa porcentagem de vacinados. Até esta quarta-feira (25), haviam sido distribuídas quase 90,8 milhões de doses, das quais 64,2 milhões haviam sido aplicadas. Dois terços foram para a primeira injeção.

Ao final de maio, Fiocruz, Butantan e outros fornecedores muito menores deverão ter entregue cerca de 32,6 milhões de doses ao governo federal. É mais vacina do que em abril, quando foram entregues cerca de 26 milhões. É um avanço pequeno no grande atraso nacional.

A Fiocruz vai entregar o que falta para completar as doses de maio até sexta-feira. Prevê oficialmente 21,5 milhões de doses no mês, mas por ora estão garantidos 20,6 milhões. A promessa do Butantan para este mês foi para o vinagre, menos da metade, pois o instituto paulista não recebeu insumos suficientes da China. Neste mês, a Fiocruz empata com o Butantan na entrega de vacinas. Em junho, ultrapassa o pioneiro instituto paulista.

E daí?

Como se prevê desde o início de março, é razoável acreditar que haverá doses para vacinar metade da população adulta, os “grupos prioritários” ou “de risco”, até o fim de junho (mas a vacinação, na prática, vai demorar mais). Trata-se da estimativa realista esperançosa. Não avançamos além disso, não houve iniciativa federal relevante para acelerar esse ritmo e, ao que parece, o vomitório idiótico dos Bolsonaro e turma prejudicou as relações com a China —retardou a coisa.

No terceiro trimestre, há problemas a resolver. O “balanço de riscos”, como diz o jargão dos economistas financeiros, é para pior. Mesmo que as doses todas cheguem, vai ser difícil vacinar todo o mundo a tempo de dar segunda a segunda injeção e ainda cumprir o “prazo de carência” imunológica até o Natal. É o que dizem epidemiologistas e imunologistas ouvidos por este jornalista (e mais pessimistas que este jornalista).

O cronograma oficial para o terceiro trimestre, de julho a agosto, prevê entregas de doses bastantes para vacinar quase toda a população adulta (98% daqueles com 18 anos ou mais, somadas às doses do primeiro semestre). Mas, considerado o ritmo atual de distribuição e aplicação das injeções, apenas 70% dessas doses chegarão aos braços dos brasileiros até o fim de setembro, muitas delas sendo a apenas a primeira picada.

Mas essa estimativa já é bem especulativa.

A Fiocruz ainda não sabe o que vai fazer para entregar vacinas em agosto ou setembro. Espera ter recebido matéria-prima importada para fazer toda a vacina contratada até julho (100 milhões de doses). Então, começaria a produzir com insumo próprio, nacional. Mas essa produção foi adiada, com entregas previstas para outubro.

O Butantan está sem perspectiva de recebimento regular de matéria-prima. Está com enorme capacidade ociosa.

Mais de metade das doses previstas para o terceiro trimestre viria da Pfizer, cerca de 86 milhões de doses. Até agora, a empresa entregou as pequenas quantidades de doses prometidas, coisa de 4 milhões. É verdade que, a partir de julho, o mundo rico, principalmente os americanos, vai ter vacinado grande parte de sua população. Pode sobrar mais para os pobres, como nós (embora tenha país muito mais pobrinho na fila do pão).

Mas não sabemos.

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