Vinicius Torres Freire

Jornalista, foi secretário de Redação da Folha. É mestre em administração pública pela Universidade Harvard (EUA).

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Vacinação perde ritmo no país e bolsonarismo faz novas campanhas de morte

Ainda falta dar dose 2 a quase 35 milhões, o equivalente a três cidades de SP

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Em janeiro, faz um ano da primeira vacinação da campanha contra a Covid no Brasil. A primeira dose foi para a enfermeira Mônica Calazans. A gente então meio que ria e meio que chorava de ver o sorrisão da mulher vacinada, de pensar que era possível vencer a peste. Apesar de tudo, e bota "tudo" nisso, o SUS mostrou sua conhecida capacidade de vacinar, um raro motivo de orgulho nacional.

Depois de muito combate contra a criatura do inferno que ocupa o poder e suas falanges de demônios, conseguimos vacinas bastantes. Agora dá certa tristeza de ver que elas sobram.

Falta dar a segunda dose para 34,9 milhões de pessoas com 12 anos ou mais, aquelas que ora podem tomar a vacina, pois o coisa ruim quer negar o remédio às crianças. É quase a população do Canadá. É metade da população da França ou do Reino Unido.

Jair Bolsonaro (PL) durante cerimônia no Palácio do Planalto - Ueslei Marcelino - 1.jun.21/Reuters

No Brasil, pouco mais de 80% dos maiores de 12 anos já tomaram a segunda injeção. Não é pouco. Mas não basta. Os números americanos indicam que a variante ômicron consegue driblar as defesas dos vacinados, embora seja muitíssimo menos letal entre quem se imunizou do que entre aqueles sem vacina.

O ritmo de vacinação com a dose 2 caiu. Em parte, é compreensível. Há agora muito mais gente vacinada do que não vacinada. A redução do número de mortes induz algum relaxamento. A criatura das trevas continua sua campanha contra a vacinação. Ainda assim.

Em dezembro, até dia 29, a média diária de aplicação de dose 2 ou única caiu para 324,5 mil injeções por dia. Em novembro, eram 600 mil por dia. Em setembro, 962 mil.

Em dezembro, a média de aplicação de doses de reforço foi maior que a de dose 2 ou única: 327,6 mil por dia. Mesmo com essa rapidez relativa, menos de 15% dos maiores de 12 anos já tomaram a dose de reforço.

Precisamos de uma campanha nacional estridente para levar os invacinados para os postos de saúde: propaganda e "busca ativa" daqueles com vacinação incompleta (procurar em casa quem não tomou a dose 2). "Leve seus parentes para o ‘postinho’" ("postinho", como ouço tanta gente chamar as unidades básicas de saúde). Leve seu amigo, seu vizinho, seu colega de trabalho.

Mas há relativo silêncio no país, fora o barulho do capeta antivacina que ocupa a cadeira de presidente da República. Herodes Bolsonaro e seu capacho da Saúde atrasam o quanto podem a vacinação das crianças de 5 a 11 anos, cerca de 20,5 milhões de pessoas. Com um pouco de boa vontade, seria possível dar a primeira dose para meninas e meninos em 50 dias, por aí. Em março, quase todas as crianças poderiam ter completado a imunização.

No meio do caminho dessa campanha pela vida, cada vez menos crianças estariam carregando o vírus por aí, quase sempre sem sintoma algum. Seria uma proteção extra para mães, pais, avós e para quem cuide de crianças. A rede de infecções teria mais uma barreira, haveria menos sofrimento e mortes em geral.

Talvez já seja tarde para que a vacinação extra contenha o impacto da ômicron, que pode ser muito intenso e breve, como diz a África do Sul. Mas é difícil saber; cada região tem sua epidemia particular.

Enfim, na dúvida, evite-se a proliferação de coronavírus; limite-se o risco de que essa coisa se transforme em variante psi, tau ou chi.

Na falta de governo federal, os estados poderiam coordenar uma campanha nacional. As criaturas do inferno fazem as suas: a cruzada contra a vacinação das crianças, o tipo no ministério da Educação que quer banir a exigência de vacina nas universidades, deputados bolsonaristas que querem impedir a obrigação de máscaras para crianças nas escolas.

Este jornalista volta a escrever no dia 9. Que o ano novo acabe bem para as pessoas de boa vontade. O meio do caminho vai ser uma pedra.

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