Vinicius Torres Freire

Jornalista, foi secretário de Redação da Folha. É mestre em administração pública pela Universidade Harvard (EUA).

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Vinicius Torres Freire
Descrição de chapéu Eleições 2022

Até donos do dinheiro grosso querem acreditar em Lula 3

Voto de Meirelles no PT faz povo do mercado especular sobre ortodoxia luliana

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Na segunda-feira (19), grupos de Whatsapp de donos do dinheiro se encheram de mensagens sobre "sinais de moderação" de Lula da Silva (PT). Algumas dessas pessoas até deram entrevistas e palestras animadas ou de pessimismo atenuado sobre o que pode ser a economia sobe um Lula 3. Tudo porque Henrique Meirelles declarou voto no petista.

Na terça-feira, a turma do "mas", do contra e os apenas sensatos apareciam para dizer que tal animação era bobice, por motivos variados. Era mesmo espuma de campanha eleitoral. No entanto, deu para discernir alguns sinais no meio do ruído desse zunzum.

Primeiro, que no curto prazo não parece tão difícil animar os povos do dinheiro, pois a mera presença de Meirelles em um comício lulista rendeu conversa. Segundo, parece que muita gente espera apenas alguma segurança, uma garantia pequena e melhorzinha, para comprar ativos financeiros ora baratinhos, como títulos da dívida pública e mesmo ações, e para retomar operações de abertura ou aumento de capital de empresas, que foram para o vinagre neste 2022.

Lula (PT) durante evento de campanha em São Paulo
Lula (PT) durante evento de campanha em São Paulo - Marlene Bergamo-30.ago.2022/Folhapress

Ou seja: com um pouco de esperteza, dá para começar o próximo governo com algum vento favorável, mui necessário, pois a coisa está feia, apesar da calmaria, muito pior do que em 2002-2003.

Isto posto e voltando aos miúdos, Meirelles não está sendo cogitado para coisa alguma porque ninguém no entorno de Lula sabe o que ele pretende fazer da economia, caso eleito. É o que petistas, outros próximos de Lula e gente da campanha repetem desde o início do ano.

Um velho petista bonachão, dos cabeças-fria do partido e muito próximo de Lula diz, rindo: "Olha, se alguém sabe de ministro da Fazenda e essas coisas, vou ficar magoado, porque não sei de nada e Lula nem deixa ter conversa sobre isso perto dele".

Muito petista estava, no entanto, fulo com a mera fofoca sobre Meirelles. Mas outros cabeças-fria do partido diziam que, mesmo para "ser ortodoxo", não é preciso colocar "banqueiro" no comando da economia, o que seria "afrontar" eleitores, partido e aliados. Seria possível mandar o mesmo "recado" com um petista ou similar no ministério, com "técnicos" importados da "ortodoxia", para usar os termos da conversa de petistas mais conformados, por assim dizer.

Especulações e "posicionamentos" há. Meirelles dança o passinho da aproximação com o lulismo faz meses. Agora oferece abertamente seus préstimos. Desde julho, há especulação sobre o presidente do conselho de administração do Bradesco, Luiz Carlos Trabuco.

Até metade do ano, o zunzum mais forte era sobre um ex-governador petista ou companheiro de viagem, um "político hábil", assumir a Fazenda, como vazam repetidamente petistas mais ou menos graúdos. Isto é, "alguém com capacidade de negociação com o Congresso".

Pode ser, mas tudo isso é conversa fiada. Para ajudar aqueles donos do dinheiro a ganhar algum tutu na virada do governo e dos juros ou, sério, criar ao menos expectativas favoráveis, é preciso se definir o óbvio.

Se eleito, Lula precisa dizer se vai aceitar um comando econômico relativamente autônomo (como em 2003-2006), um projeto sério de contenção da dívida (algum "teto" de gasto), se vai fazer acordo parlamentar bom para duas ou três reformas grandes logo de cara (tributária, administrativa e garantias para investimento privado) e se vai nomear e apoiar "técnicos" capazes de tocar tudo isso. Na reconstrução do país, as alternativas de política econômica serão mínimas.

Até agora, a conversa econômica de Lula é apenas um pot-pourri de flores que murcharam faz pelo menos 12 anos. No entanto, como se vê, até o povo do mercado quer acreditar em um possível Lula 3.

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