Vinicius Torres Freire

Jornalista, foi secretário de Redação da Folha. É mestre em administração pública pela Universidade Harvard (EUA).

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Vinicius Torres Freire
Descrição de chapéu Eleições 2022

Fora Lula, grande vitória da extrema direita e da direita negocista

Bolsonaristas e agregados avançaram na Câmara e no governo de estados maiores

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Ao longo da estrada do primeiro turno, há umas cabeças espetadas em estacas. São deputados federais muito votados na onda bolsonarista de 2018, mas decapitados em 2022 depois de romperem com o líder. No final do caminho, está o país da extrema direita e da direita negocista, que acaba de anexar novas províncias de votos.

Lula da Silva (PT) teve uma vitória preliminar e parcial. Mas Lula não é um partido. Como disse no discurso do dia da prisão, em 2018: "Não sou mais um ser humano, sou uma ideia misturada com as ideias de vocês". Afora a "ideia" Lula, a vitória até agora foi das direitas e suas ideias.

Considere-se um bloco formado por PL, partido ora alugado por Jair Bolsonaro, PP, dos regentes do governo, Republicanos, partido maior da empresa evangélica, pelo União Brasil, fusão do DEM com restos do PSL, e pelo nanico reacionário Patriota.

O presidente Jair Bolsonaro (PL) e os presidentes do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), de costas, e da Câmara, Arthur Lira (PP-AL) - Sérgio Lima-14.jul.2022/AFP

Esses partidos fizeram 256 deputados federais. Em 2018, elegeram 114. É verdade que, no final da legislatura, agora em 2022, tinham 242. Seja como for, a direita extrema e a negocista-mor está a um voto da maioria da Câmara. O número de votos desse blocão da direita cresceu 27,4% de 2018 para 2022.

O bloquinho da esquerda elegeu 128 deputados (somando PT, PSB, PSOL, PCdoB, PDT, PV e Rede). Em 2018, haviam ficado com 138 cadeiras. Ao final desta legislatura, tinham 121. O número de votos do bloquinho da esquerda caiu 5,8%. A votação do PT para a Câmara cresceu 10,4%, mas não compensa o avanço da direita.

Os campeões da alucinação ideológica do bolsonarismo foram eleitos para o Congresso e podem levar o Rio Grande do Sul. O bolsonarismo pode tomar o poder em São Paulo. Os governadores dos três maiores colégios eleitorais do país, São Paulo, Minas e Rio, vão apoiar Bolsonaro —a campanha da esquerda no triângulo sudestino foi um fracasso de tática, estratégia e resultados, para não dizer coisa pior. Nos demais estados além do Nordeste, que já é Lula, a situação é ora desfavorável para o petista.

Esses apoios políticos são de importância relativa, mas devem levar mais uns votos para a direita, já bem estabelecida com a votação de Bolsonaro e de seus deputados. Note-se: Lula teve 66,7% dos votos para presidente no Nordeste, mas o PT teve 12%, votação semelhante à de PL, União Brasil e PP. No Sudeste, Lula teve 42,6% (Bolsonaro, 47,6%), mas o PT teve 11% dos votos (o PL teve 21,4%).

Costuma ser assim, a esquerda minoritária na eleição legislativa, com cerca de um quarto da Câmara. Mas a composição do resto mudou: o velho centro é nanico, os negocistas são mais direitistas, os direitistas são mais extremados e tantos quanto a esquerda.

Havia gente a dizer que um segundo turno obrigaria Lula a "explicitar programas", a fim de obter apoios. Hum. "Programas" vão render votos, nessa campanha "tiro, pancada e bomba"? Mais certo é que, caso eleito, Lula terá vida mais difícil no Congresso.

Sim, sabemos pouquíssimo da conversa eleitoral real, das mensagens e redes. Tanto que o resultado de 2018 e 2022 desmoralizou parte grande das análises bem-pensantes e baseadas em pesquisas.

Enfim, que o eleitor estava bem decidido: houve apenas 4,4% de votos nulos e brancos na presidencial, um recorde desde 1989. A média era de 8,8% desde 2006. É uma diferença de mais de 5 milhões (da realidade de 2022 ante a média recente). Os candidatos excluídos do segundo turno foram mal. Em tese, resta pouco voto a disputar. Pode favorecer Lula, que vai ter de fazer campanha em um país direitista e rachado de ódio, porém.

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