Vinicius Torres Freire

Jornalista, foi secretário de Redação da Folha. É mestre em administração pública pela Universidade Harvard (EUA).

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Vinicius Torres Freire
Descrição de chapéu juros Selic inflação

Inflação e juros em alta são sinais de veneno na economia de 2023

Projeções de preços e juros para 2023 ficam maiores; Banco Central sobe um pouco de tom

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São Paulo

A estimativa de inflação para 12 meses adiante tem subido desde o fim da eleição. Foi de 5,1% para 5,4%. A expectativa para 2023 inteiro passou de 4,94% para 5,08%.

Parece um nada, mas:

  1. o aperto monetário, alta de juros, vem desde o começo de 2021, quando a Selic estava em 2% ao ano. Desde agosto deste 2022, está em 13,75%. A esta altura do sufoco, seria conveniente que as expectativas estivessem em baixa. Otimistas esperavam até mesmo que o BC antecipasse o início da redução dos juros, para antes do final do primeiro semestre do ano que vem;
  2. em vez disso, pioram também as expectativas de juros para 2023. Até 17 de novembro passado, estimava-se que a Selic, a taxa básica de juros, orientada pelo Banco Central, cairia para ainda horríveis 11,25% ao ano no final de 2023. Agora, baixa apenas para 11,75%.
  3. desde a semana em que Luiz Inácio Lula da Silva bateu boca com "o mercado" (um espantalho) sobre déficits e dívida, faz um mês, a taxa de juros para um ano passou de 13,26% para a casa dos 14% ao ano (13,92%, nesta quarta-feira);
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Projeções de preços e juros para 2023 ficam maiores após Copom manter Selic a 13,75% - Catarina Pignato

O mais importante a reter aqui é que ocorre uma piora de expectativas quando se esperava um começo de alívio, o início de um "círculo virtuoso", mudança de ânimos (e de juros e câmbio, claro) capaz de até elevar confiança e projeções de crescimento para 2023.

Não aconteceu.

Nesta quarta-feira, o esquecido Banco Central manteve a Selic em 13,7%, quase não alterou o comunicado em que informa os motivos resumidos de sua decisão e prevê inflação voltando à meta (3%) apenas depois do primeiro semestre de 2024. Além disso, reforça que o caldo de juros e câmbio pode engrossar, a depender do que se fizer de déficits, dívida e das regras para controlar as contas públicas. O pessimismo geral do comunicado subiu meio tom.

Como sempre, note-se que nada dessas projeções está escrito em pedra, muito ao contrário. Além do mais, as estimativas andam dispersas (variam muito, a depender de quem dá o chute informado).

Como se escreveu linhas acima, a mediana de 82 projeções de economistas do setor privado compiladas pelo BC até dia 2 de dezembro dava uma Selic de 11,75% no final de 2023. A projeção dos economistas do Itaú era de 11%. A do Bradesco, 11,75%. A do Credit Suisse, tido na praça como mais pessimista, está espantosamente mais pessimista mesmo: Selic na mesma, até o final de 2023, em 13,75%. Para os economistas do Credit Suisse, o impulso econômico do gasto adicional e a incerteza sobre as novas regras fiscais (um limitador qualquer de endividamento público), vão impedir a queda da inflação no ano que vem (que estimam em 5,8%, ante 5% da projeção do Banco Central).

Como se lê no comunicado do BC, a inflação pode ser menor caso o preço das commodities em reais caia mais, se a economia mundial andar mais devagar ainda do que ora se imagina e os cortes de impostos de 2022 continuarem em 2023. Pode-se acrescentar: se a economia brasileira também esfriar mais (e, assim também, a criação de empregos e a evolução dos salários) _só será bom se for ruim.

Deve ser fácil perceber que juros mais altos por mais tempo vão frear mais a economia, tudo mais constante.

A expectativa de crescimento maior da dívida (por causa de despesa federal maior e mais gastos com juros, maiores por mais tempo) deve impedir a queda das taxas. O pacotão de R$ 169 bilhões de gasto adicional acertado entre Lula e Congresso não provocou piora adicional nos juros de mercado, mas não deve permitir baixa maior tão cedo. Também tão cedo não deve haver uma definição da tal nova regra fiscal. O jogo vai para uma prorrogação preocupante.

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