Vinicius Torres Freire

Jornalista, foi secretário de Redação da Folha. É mestre em administração pública pela Universidade Harvard (EUA).

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Ministério Lula 3 tem muita experiência, Nordeste e pouca 'união nacional'

Governo é o mais diverso da história, mas não muito, e agora vai ter nomeações do centrão

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Luiz Inácio Lula da Silva nomeou 21 dos seus 37 prováveis ministros. Por enquanto, é um ministério dominado por PT, aliados, companheiros de viagem e de gente representativa de movimentos sociais, negros em particular. Agora em diante é que são elas (poucas elas): vem a barganha com centrão e Congresso.

É um ministério de gente muito experiente, que ocupou cargos executivos de importância. Vai ser o mais diverso da história, mas lá não muito. Mulheres talvez chefiem um quarto das pastas ou um tico mais do que isso, por exemplo.

Lula anuncia nomes de futuros ministros do seu governo - Ueslei Marcelino - 22.dez.2022/Reuters

É um governo marcadamente nordestino. Embora seja injusto e ignorante jogar as pessoas da região nesse balaio genérico, o adjetivo tem, no contexto, significado político. Lula deve sua eleição às largas maiorias que teve no Nordeste, que tem tido muitos governadores de esquerda. No mais, o gabinete é em boa parte paulista.

Dos nomes confirmados, sete são ex-governadores. Fernando Haddad, ex-prefeito paulistano, entra nessa conta de sete porque a prefeitura de São Paulo é o terceiro maior governo do país. Fica apenas atrás do Executivo da República e do estado.

O gabinete pode ter pelo menos mais um governador, pois Renan Filho, de Alagoas, deve ter um ministério na "cota" do MDB-Renan Calheiros.

Há cinco ex-ministros, todos de governos do PT, inclusive José Múcio Monteiro (Defesa). Por falar nele, Múcio é uma das poucas figuras, além de Geraldo Alckmin (Desenvolvimento, Indústria e Comércio) e Márcio França (Portos e Aeroportos), que não são de esquerda. França e Alckmin são do PSB, que junta de ex-tucanos a ex-psolistas e muito mais. Há quatro nomes que já ocuparam cargos de secretário nos governos petistas (segundo escalão, abaixo de ministro) e ministros em outros postos.

O ministério da Saúde escapou da mão do centrão e ficou com Nísia Trindade. Era presidente da Fiocruz, que, em termos de assuntos e importância, é como um ministério, embora sem o tamanho e a complexidade prática da Saúde.

A Educação ficou com Camilo Santana (PT) e Izolda Cela, que governaram o Ceará, estado com poucos recursos materiais que tem mostrado como usar a cabeça para melhorar o ensino.

Até agora, falta "união nacional". Lula 3 colocou Alckmin no Mdic, só, o que, por falar nisso, não diz boa coisa sobre a capacidade do governo de agregar outros quadros econômicos que fiquem muito longe da esquerda. Mas a "união nacional" de Lula começou e praticamente acabou em Alckmin.

O que vai vir de centrão e Congresso não deve significar diálogo maior com aquela parte da sociedade que se uniu a Lula contra a reeleição das trevas. É a barganha sabida para dar estabilidade político-parlamentar ao governo.

Simone Tebet (MDB "voo solo") não tem cargo ainda. É uma figura emblemática. Foi uma candidata sem chances, ignorada pelo seu partido e que, enfim, teve pouco voto, mas que mostrou capacidade política para ficar maior do que tudo isso e de mudar sua biografia.

Juntou em torno de si o que restou dos quadros do velho PSDB e de novos tucanos "em espírito", em especial na área econômica (que já se distanciou de Lula 3 e está pessimista com o governo). É também um elo com as elites mais civilizadas do país.

Falta também saber o que será feito de Marina Silva (Rede), outra ponte com elites civilizadas (não apenas econômica) e com o resto do mundo. Um programa ambiental forte, com ramificações econômicas e tecnológicas, é uma avenida possível de sucesso para Lula 3. Se Marina Silva e os quadros que desenvolveram as instituições ambientais nos governos petistas não tiverem relevância (sem prejuízo de agregar gente nova), Lula e o país terão um problema grave.

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