Vinicius Torres Freire

Jornalista, foi secretário de Redação da Folha. É mestre em administração pública pela Universidade Harvard (EUA).

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Bancos querem complicar também nos EUA vida de trio bilionário da Americanas

Credores pensam também em como obter fora do país compensação por escândalo contábil

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Pelo menos alguns dos bancos credores querem que os acionistas maiores da Americanas cubram parte do prejuízo, parte do calote que a empresa vai dar, com seu próprio patrimônio pessoal, como noticiou esta Folha.

Em geral, patrimônios de acionista e de empresa são separados, como bem se sabe. Mas o plano de batalha de credores vai além: dificultar ou prejudicar a vida desses acionistas no mercado americano, por exemplo.

Jorge Paulo Lemann, um dos maiores acionistas da Americanas, na sede da ONG Gerando Falcões - Bruno Santos - 12.fev.19/Folhapress

Tomar o dinheiro dos acionistas de interesse (maiores e envolvidos na administração) é uma situação excepcional, com exceção dos casos em que se encontra uma digital na arma de um crime financeiro, contábil ou assemelhado.

Qual a ideia, então? Ainda pressionar empresa e acionistas maiores até que se reduza o calote ao mínimo possível (mínimo enorme), como também parece óbvio.

A diferença aqui é o ânimo furioso da disputa. Credores, diz pelo menos um representante de banco, pretendem "aumentar muitíssimo o risco" de que os grandes acionistas da Americanas tenham problemas na Justiça dos Estados Unidos, sejam condenados a pagar bilhões em danos e enfrentem dificuldade de operar nos mercados por lá; no Brasil, a ideia seria criar um "caso de polícia" de fato.

Deixar de lado a separação de patrimônio de empresa (PJ) e seus acionistas principais ou de interesse (Jorge Paulo Lemann, Carlos Alberto Sicupira e Marcel Telles) chama-se "desconsideração da personalidade jurídica".

Como praticamente nada se sabe sobre a natureza, o tamanho e a autoria da baderna na Americanas, a hipótese de responsabilidade dos acionistas maiores é ainda especulativa, como admite esse banco que vai levar um espeto da empresa.

Levar a cabo um processo dessa espécie ou outro modo de ressarcimento de danos à empresa é complicado. Atribuir a acionistas a responsabilidade por rolos é difícil. Bons advogados arrastariam esse processo por muito tempo.

"É um instrumento jurídico válido, a esta altura baseado em dúvida forte sobre o que aconteceu no comando lá dentro e um instrumento de pressão que pode ser um meio para abreviar uma guerra que pode ser longa, uma disputa que não interessa a ninguém, à economia, ao mercado, aos fornecedores, aos colaboradores etc.", diz esse representante de um banco.

O problema até agora, em suma, é que os "acionistas de referência" não "mostram nenhuma disposição para negociação, ao contrário".

Quanto ao desenrolar até agora quase nulo do rolo, outros envolvidos (prejudicados) continuam a comentar o desastre com escárnio furioso, atitude que ficou visível desde o segundo dia da crise. A reação dos bancos foi morder o pescoço da companhia e tratar seu comando como gente que "vai fugir com o dinheiro".

A revolta mais recente diz respeito à apresentação das listas de dívidas, uma bagunça, pois incompatíveis entre si e de valores contestados pelos próprios credores. Outro problema é o comitê autônomo de auditoria, composto por gente com ligação profunda com a empresa ou que faz parte de seu comando, como argumentou o credor Bradesco.

Por ora, de mais concreto e material, a ofensiva jurídica tem como objetivo obter e preservar provas, fazer um juntadão de todas as comunicações de executivos, internas e externas, e recolher dados que permitam uma avaliação que dê pistas sobre como foi montado esse rolo.

A empresa, pelos escassos indícios que forneceu até agora, escondeu dívidas e, assim, inflou resultados. Sem tal manobra, não teria tido acesso a tanto crédito e ao preço que conseguiu. Não teria conseguido aumentar capital (ou, ao menos, não ao preço que conseguiu) etc. Pedalou, em suma.

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