Vinicius Torres Freire

Jornalista, foi secretário de Redação da Folha. É mestre em administração pública pela Universidade Harvard (EUA).

Salvar artigos

Recurso exclusivo para assinantes

assine ou faça login

Vinicius Torres Freire
Descrição de chapéu Bradesco

Sem caixa, crédito ou recuperação judicial, como a Americanas vai operar?

Instituições financeiras querem forçar acionistas a entrar com dinheiro e vender ativos

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Um representante de um dos bancos que vão tomar um espeto da Americanas diz que "agora, é preciso apertar a empresa e fazer com que seus acionistas maiores assumam responsabilidades, o bastante para que a companhia não fuja com o dinheiro [sic], mas nem tanto, a ponto de que a empresa deixe de ser operacional".

É público que os bancos maiores, pelo menos, querem evitar que a Americanas saque das suas contas bancárias sem supervisão e controle, sem que explique o que vai fazer do dinheiro (a quem vai pagar, se vai, por qual motivo etc.). O BTG Pactual, por exemplo, conseguiu nesta quarta-feira uma decisão judicial provisória nesse sentido.

Consumidores em unidade das Lojas Americanas no DF
Consumidores em unidade das Lojas Americanas no DF - Ueslei Marcelino - 12.jan.23/Reuters

A situação, porém, está desembestada, no momento. Os bancos na prática foram à jugular da Americanas, a fim de se protegerem ("para que não fujam com o dinheiro" deles). Estão tratando o pessoal da Americanas como gente perigosa.

Por outro lado, como reconhece obviamente um desses bancões, com um caixa diminuto, sem crédito, sob risco de fuga de fornecedores e sem um acordo qualquer, judicial ou outro arranjo ao menos provisório, a empresa pode deixar de ser operacional. Isto é, não ter dinheiro para financiar suas atividades do dia a dia (para encomendar mercadorias, por exemplo).

De resto, também óbvio, se a cobrança for mesmo na jugular, com antecipação de pagamento de débitos, a Americanas se torna insolvente, o que não faz sentido para ninguém. No resumo da ópera, sem uma recuperação judicial ou uma doação milagrosa e instantânea dos atuais acionistas, não tem saída.

A estratégia, diz esse representante de um dos bancões, é forçar alguma espécie de compromisso de acionistas maiores. Ou seja, uma atitude do trio Jorge Paulo Lemann, Marcel Telles e Carlos Alberto Sicupira (cerca de 31% das ações) ou, mais improvável (diz o representante do bancão), dos gestores de dinheiro grosso Capital Group, TIAA e Blackrock (cerca de 21%). Isto é, teriam de entrar com dinheiro novo e vender ativos, como a empresa de hortifrúti Natural da Terra, comprada em 2021, para dar um exemplo maior, e cessar investimentos.

A este jornalista, pelo menos, mais não foi dito a respeito do estado das negociações, mesmo entre bancos credores, que teriam de acertar uma estratégia, reconhece o representante do bancão, a fim de "não precipitar resultados inapropriados, que não são do interesse de ninguém".

Um problema maior e óbvio para que se organize algum acordo ou estratégia é o próprio fato de que nem ao menos se sabe o tamanho do buraco, da camuflagem de dívidas, e de que não se conhecem responsáveis pela fraude e seus detalhes.

"Como negociar com alguém que pode ter dado um golpe? Qual a natureza das irregularidades? Tudo isso causa dificuldades e dúvidas jurídicas sobre o processo todo", diz o representante do bancão credor da Americanas. No entanto, uma solução é necessária em dias ou horas.

De resto, o rolo pode seguir por novos caminhos. Reportagem desta Folha mostrou que um terço da dívida bancária da Americanas é com instituições públicas. O papagaio vermelho da companhia com todos os bancos seria de uns R$ 20 bilhões.

O tamanho do problema com as instituições financeiras públicas deve levar o governo para dentro da confusão —vai ser cobrado pelo que fizer a respeito do assunto, de agora em diante, mesmo não tendo tido nada a ver com o rolo.

A situação pode até se complicar, pois tende a haver um tempero político. Assim, o caso deve ser assunto também no Congresso. Por outro lado, pode ser um incentivo para que esse escândalo grosso não termine um acordão e "ajustamento de condutas".

LINK PRESENTE: Gostou deste texto? Assinante pode liberar cinco acessos gratuitos de qualquer link por dia. Basta clicar no F azul abaixo.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.