Faz três meses, Luiz Inácio Lula da Silva está em campanha contra a política econômica convencional. O resultado prático dos discursos de palanque é evidentemente negativo.
Para ficar nas evidências mais elementares e gritantes, as taxas de juros subiram e o real continua desvalorizado além da conta, um empecilho também para a queda da inflação. Esse aperto de condições financeiras começa a ameaçar o crescimento da economia também em 2024.
Por que o presidente age assim? Lula poderia ter um projeto de mudança. Isso quer dizer propor novas instituições e métodos de política macroeconômica, por exemplo (gastos, dívida, inflação, Banco Central). Os governos do PT jamais apresentaram tal projeto, em 13 anos e meio no poder ou nos 6 anos e meio fora dele, quando criticavam o "rentismo", o "austericídio" e o "neoliberalismo". Particularmente sob Dilma Rousseff 1, a política convencional de controle de déficit e dívida e de metas de inflação foi avacalhada —não houve mudança institucional ou de método.
Partidários do presidente dizem que não se pode julgar a política econômica pelos discursos dele, pois tal política ainda estaria em elaboração. Que seja. Ouvindo discursos do que pode ser tal política, quem tem dinheiro e haveres em geral se protege, cobrando juros maiores e mantendo menos ativos em reais (o dólar sobe ou não cai tanto).
Pelos discursos de Lula até agora, parece que o presidente acredita que algumas gambiarras (avacalhação de políticas, técnicas, métodos, não mudança de fato) bastam para reeditar o "milagre do crescimento". Isto é: um pouco mais de inflação (aumentar a meta). Ou obrigar o Banco Central a "conversar" (baixar a Selic). Fazer o BNDES emprestar mais, a juro de pai para filho, para se "contrapor" ao BC. Ter mais gente sua em comando de estatais, até revertendo a privatização (de fato porca) da Eletrobras.
É razoável discutir se tal ou qual Selic contém a inflação ou o nível da meta de inflação ou tipo de teto de gastos mais adequado. A avacalhação dessas políticas ou as alternativas confusas ou simplórias sugeridas nos discursos de Lula apenas têm resultado e resultarão em menos crescimento.
Um exemplo de debate não vai caber nestas colunas hoje, mas há possibilidades. Um caso interessante é o dos Estados Unidos (e a Europa irá a reboque) projetando pesados subsídios, entre outras medidas, para a "transição tecnológica verde", mas não apenas. Em matéria de heterodoxias, aliás, os EUA têm caprichado desde o grande desastre de 2008. Mas essa é uma conversa séria ou, talvez, para quem pode.
Nosso problema aqui e agora é o de avacalhação ou de propostas grandiosas, por ora com pés de barro, como o Banco Central controlar as taxas de juros de todos os prazos (não apenas a de curtíssimo prazo, como a Selic), de ignorar que a dívida pública recomeçará a crescer sem limite neste ano ou mesmo de gastar (endividar-se) à vontade, imaginando que, mesmo assim, se possa pagar a taxa de juros que se quiser, com a taxa de câmbio que se quiser, talvez controlando tudo isso na marra ou com grande inflação (nunca deu certo, afora em situações de imensa guerra e por pouco tempo), como sugerem novos companheiro de viagem do PT.
Lula faz tudo isso de propósito? Quer jogar a conta do baixo crescimento deste ano em outrem? Não precisava fazer tal esforço, deletério. Não tem noção do estrago que está causando? Acredita que gambiarras vão colocar o país para crescer? Em delírio de grandeza, está descolado da realidade, sem ninguém no seu entorno para dizer o tamanho do problema que provoca com esses murros em faca?
É uma dúvida e um espanto.
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