Quais as consequências políticas e econômicas do massacre de israelenses, no final de semana? Depende do tamanho que o massacre de palestinos que está por vir. O mundo do poder e da economia parece esperar para ver o tamanho do estrago ou da barbaridade que o governo de Israel vai fazer em Gaza.
É o que transparece de declarações oficiais, relatórios da grande finança e de institutos de relações internacionais, análises de entendidos na imprensa do "Ocidente" e em vazamentos de informações de governos para a mídia americana e europeia.
Note-se de passagem: Gaza é um território de tamanho um pouco menor do que um quarto da cidade de São Paulo, onde vivem pouco mais de 2 milhões de pessoas. Quase 40% do povo de Gaza tem menos de 14 anos. A renda per capita da Palestina (Faixa de Gaza e da Cisjordânia, sob a Autoridade Nacional Palestina) equivale a mais ou menos um terço da brasileira (diz o FMI). Fecho a nota.
Até aqui, Estados Unidos e aliados maiores da Europa ocidental vêm dizendo que Israel tem o direito de se defender. Tem. O que significa isso, porém? Até que ponto o governo de Israel pode ir na razia de Gaza antes que haja declaração pública (ou vazada) de protesto "ocidental" (chinês?), uma revolta popular em países árabes e/ou muçulmanos ou algum "acidente militar" que degrade ainda mais esta situação bárbara?
Israel anunciou nesta quarta-feira (11) a formação de um "governo de união nacional", liderado por Binyamin Netanyahu —até o ataque monstruoso contra os israelenses, Bibi liderava um governo de extrema direita tão lunática que ele era a figura menos selvagem do gabinete. O governo de união se anunciou para os israelenses e o mundo chamando o Hamas de Estado Islâmico (Daesh) e dizendo que vai varrê-lo da face da terra.
Desde que começaram as tentativas dos governos de Israel de erradicar as organizações palestinas, terroristas ou não, o nome que se dê, o resultado da guerra (ou similar) foi a mera substituição de lideranças palestinas ou a criação de novas organizações, muitas ainda mais violentas ou terroristas. É mais ou menos assim faz mais de 40 anos, pelo menos desde a invasão do Líbano.
A depender do tamanho do genocídio, porém, é possível arrasar o Hamas ou impedir que o grupo ou um sucessor similar tenha meios de ataque pela próxima, digamos, década ou geração. Mas não foi por falta de capacidade militar que os Estados Unidos perderam a guerra do Vietnã ou, ainda ontem, fugiram do Afeganistão.
De qualquer modo, quase não se ouve palavra sobre o que fazer da desgraça contínua na região. Há menos rota de saída do horror do que em Gaza.
Por outro lado, ainda que o governo de Israel venha a cometer um ataque ainda mais ultrajante a Gaza, é de se pensar qual pode ser a reação "sistêmica" na região (afora atentados terroristas pelo mundo).
O Irã, o suspeito de sempre, está exportando petróleo como não o fazia desde que Donald Trump reapertou as sanções, na prática, desde 2017 e 2018. Mesmo vendendo barris com desconto, tem exportado o suficiente para cobrir rombos em suas contas públicas, abater dívida e investir em infraestrutura.
Vai se sujeitar a sofrer bombardeios de poços, terminais portuários, refinarias etc? A ver um reaperto das sanções americanas? Vai arriscar tudo isso autorizando o Hizbollah a esquentar suas escaramuças quase rotineiras com Israel? Hum. Tudo é possível neste mundo sem razão e sem Deus.
Como dizem os entendidos, é provável que toda a política de Joe Biden para a região, a aproximação entre árabes e israelenses, vá para o vinagre. Uma disseminação de conflitos, com consequências maiores para economia e política mundial, ainda não aparecem no horizonte, porém. Ainda estão calminhos os donos do dinheiro grosso ou, melhor, os operadores da finança mundial. Sim, eles erram ainda mais sobre política do que sobre o futuro de recessões e o preço do petróleo.
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