Vinicius Torres Freire

Jornalista, foi secretário de Redação da Folha. É mestre em administração pública pela Universidade Harvard (EUA).

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O recomeço de Lula 3, a eleição municipal e a ofensiva reacionária

Projetos de leis de selvageria social e risco de derrota em outubro dificultam retomada

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Não é surpresa que esse Congresso proponha leis contra a civilização e o debate racional de problemas sociais.

Veio o ataque à "saidinha" de presos. Quer inscrever na Constituição o princípio da prisão em massa de quem for pego com droguinhas, uma contribuição para o recrutamento de soldados para as facções do crime, entre outros problemas.

A lei já reacionária sobre a interrupção voluntária da gravidez ("aborto"), piorada na prática por guerrilha jurídica e institucional, pode ficar mais desumana.

Além de convicção retrógrada, há nisso uma campanha política oportunista, óbvio. A extrema direita, com apoio da maioria da direita, quer atrair Lula 3 para batalhas de alto risco.

Em parte, trata-se de encurralar ainda mais o governo no Congresso. Em parte, de tentar fazer Lula 3 reagir a leis retrógradas para que se crie material de propaganda, acusações virais tais como "abortista", "defensor de bandido", "maconheiro".

A vitória extremista não está garantida, mesmo nesse atoleiro em que os asselvajados se sentem à vontade. Ficou evidente que os broncos podem conseguir violentar ainda mais até meninas estupradas. Uma articulação de governo com a sociedade civilizada poderia fazer contraponto maior (cadê?).

Ainda assim, o perigo é grande e imediato para governo e "progressistas". Daqui a quatro meses haverá eleição. Não se percebe nas cidades maiores novidade e quantidade de nomes favoritos na esquerda, de resto pobre em alianças.

Em São Paulo, a coalizão bolsonarista tem apoio de um governo estadual que se jacta do aumento do número de mortos pela PM e que atua no Congresso pela reação. A chapa deve ter um vice que é coronel PM "parça" de Jair Bolsonaro.

O mote da direita em 26 será segurança linha dura, ouve-se nos jantares de Tarcísio de Freitas. Entretanto, Lula 3 nem apresentou um plano de segurança; na Bahia dos governos petistas, a violência policial é enorme. Além dos ataques da direita, falta defesa.

Uma grande derrota municipal da esquerda não vai dizer o que será da eleição de 2026, claro. Mas vai indicar ao oportunismo político para onde o vento sopra. No Congresso, pode, pois, piorar uma situação que se degrada rápido.

A eleição para o comando de Câmara e Senado orienta estratégias, como previsto, embora vá ocorrer apenas em 2025. O presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), quer fazer o sucessor e manter o prestígio. Assim, tenta também conseguir apoios de bolsonaristas e similares, que ganham relatorias, comissões e a tramitação de barbaridades.

Fortaleceu-se a coalizão contra impostos: de políticos empresários com empresários políticos e sindicatos empresariais.

O governo perdeu a iniciativa na dita "pauta econômica". Até a reforma tributária pode ficar para 2025. Desde sempre muito minoritário, em ideias e números, sem um centro a quem recorrer, Lula 3 está na defensiva. Depende mais do Congresso para evitar naufrágio maior nas contas públicas, sempre um risco, dados os erros no programa fiscal.

Afora em momentos excepcionais, o Congresso não se queima votando controle de gastos. Não ficará mais propenso a fazê-lo quando há eleições adiante e em favor de um governo que mal tolera. Lula 3 terá de recuar mais e ceder mais.

São ataques em várias frentes. No front internacional, o clima pode pesar a depender de eleições (EUA, França etc.) e do que se passar na Argentina com a "grande esperança branca" da direita, Javier Milei.

Um recomeço depende de Lula 3 se entender internamente e entender seus problemas políticos e econômicos. Faz um mês, leva bombas de juros e dólar, é metralhado na política. Agia como se não se passasse nada ou fosse injustiçado. Vai acordar?

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