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Esta coluna é uma parceria da Folha com o Centro de Política e Economia do Setor Público da Fundação Getúlio Vargas (FGV Cepesp).

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O tempo de campanha de TV ainda importa?

Métrica nos ajuda a entender quem são os favoritos nas eleições

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Jairo Pimentel

Doutor em ciência política pela USP e pesquisador do FGV Cepesp

Nos últimos tempos, sobretudo após a vitória de Bolsonaro, tornou-se lugar comum questionar se a TV ainda importa para as campanhas eleitorais. Na verdade, e por incrível que possa parecer, a ciência política nunca foi conclusiva em apontar que a campanha de TV seja um fator crucial para definir os resultados dos pleitos. Há certo consenso de que as campanhas são importantes para fazer variar as intenções de voto, mas a maioria dos estudos sobre o tema aponta que outras variáveis exógenas às campanhas (tais como a economia ou avaliação de governo) seriam mais relevantes para definir vencedores e perdedores dos pleitos.

A despeito dessa celeuma, é possível afirmar de maneira peremptória: mesmo no atual contexto, os candidatos mais fortes eleitoralmente tendem a ser aqueles que têm mais tempo de TV. Tomando como parâmetro as eleições para prefeito nas 26 capitais estaduais brasileiras de 2000 a 2016, observa-se que, em média, 54% dos candidatos eleitos tinham o maior tempo de TV e 81% deles tinham ou o primeiro ou segundo maior tempo de TV. Diferentemente do que se poderia supor, essa dinâmica não tem arrefecido no decorrer do tempo, com variações que parecem relacionadas à própria natureza do processo de reeleição.

Na eleição de 2000, 65% daqueles que foram eleitos tinham mais tempo de TV, enquanto em 2004 apenas 31%. Essa dinâmica provavelmente se relaciona ao fato de em 2000 termos tido a primeira reeleição para prefeitos, enquanto em 2004 esses prefeitos estavam saindo de cena pois não podiam se reeleger novamente e seus indicados, apesar de construírem um bom tempo de TV, lograram menos sucesso eleitoral. Pesquisas acadêmicas sobre o tema indicam que candidatos governistas conseguem ser mais bem sucedidos na construção de tempo de TV. Adicionalmente, outras pesquisas indicam também que quando o próprio governante busca se reeleger ele tende a ter mais sucesso do que quando indica um sucessor.

Em 2008, muitos dos prefeitos incumbentes dessas capitais buscaram a reeleição e elas vieram em nível recorde de 95%, índice impulsionado pelo ótimo momento econômico do Brasil. Em 2012, novamente os incumbentes saíram de cena, o que fez decair a relação entre os prefeitos eleitos e o primeiro maior tempo de TV, que subiu novamente em 2016, ano que marca o fim da doação empresarial e que, provavelmente, tornou o tempo de TV mais relevante para o desempenho das campanhas. A despeito dessas variações, observa-se certa estabilidade quando somados o percentual de primeiro e segundo tempo de TV entre as candidaturas vencedoras.

O tempo de campanha de TV representa assim uma ótima heurística para analisar o peso competitivo das candidaturas. Mesmo nas últimas eleições, quando muito se falou de “disrupção das campanhas eleitorais”, 56% dos governadores eleitos tinham o maior tempo de TV e 67% tinham o primeiro ou o segundo maior tempo. Os casos fora da curva foram justamente daqueles candidatos a governador que se apoiaram no bolsonarismo. Dessa forma, as vitórias de Bolsonaro e de seus correligionários parecem ser ainda hoje mais a exceção do que a regra na dinâmica das disputas eleitorais majoritárias. É possível que esse seja o novo normal e cada vez mais vejamos a emergência de "novos Bolsonaros", mas ainda hoje é mister analisarmos o tempo de TV se quisermos entender quem são os favoritos nas eleições para prefeito.

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