A possibilidade de privatização dos Correios, proposta que avançou na Câmara na semana passada e agora segue para votação no Senado, tem alarmado o mercado editorial.
Um grupo de livrarias e sebos já havia divulgado um manifesto se opondo à medida. Editoras, principalmente as independentes, também têm mostrado preocupação.
O receio é que, gerido por uma empresa privada, o serviço passe a atingir menos cidades —e, assim, menos leitores— ou fique mais caro.
Segundo Raquel Menezes, dona da Oficina Raquel, editoras menores contam com menos exposição nas livrarias e se ancoram mais no comércio virtual para alcançar seus leitores. Para que o livro chegue até eles, é fundamental o recurso aos Correios, que garantem na modalidade de “registro módico” um frete mais barato a produtos impressos.
Não é certo que essa política vantajosa aos livros seja mantida sob uma empresa privada, que visa o lucro, argumenta Menezes. Num cenário em que essa tarifa seja extinta, comprar de independentes deve ficar mais caro, afirma Nathan Magalhães, editor da Moinhos. “Você vai comprar um livro de R$ 50 e pagar mais R$ 20 de frete.”
Alexandre Martins Fontes, que toca a livraria que leva seu sobrenome e a editora WMF Martins Fontes, faz coro. "Com o aumento das vendas online, o custo com o transporte de livros passou a representar uma despesa 'de muitos tostões' para livrarias e editoras. O que garante que livros receberão tratamento especial por parte das empresas que vierem a substituir os Correios?"
Outra preocupação é o fechamento de postos em cidades menos populosas, aonde o acesso é mais difícil e custoso.
Segundo Raquel Menezes, isso é motivo para acender o sinal de alerta também em editoras grandes. “Se você deixar de atender determinados lugares, os leitores vão diminuindo. Se o leitor é prejudicado, todos os editores são.”
Marcelo Levy, diretor comercial da Todavia, afirma de fato compartilhar da preocupação, mesmo que a editora recorra pouco aos Correios. “Há lugares a que serviços de entrega não chegam e a que talvez um correio privatizado deixe de chegar. Um cenário em que o livro vai desaparecendo da paisagem urbana, em que a entrega fica dificultada, é preocupante.”
DO CARIBE Serão lançados na 34ª Bienal de São Paulo, em setembro, os dois primeiros volumes da Coleção Édouard Glissant, “Poética da Relação” e “O Discurso Antilhano”, pela Bazar do Tempo. Filósofo e romancista francês nascido na Martinica, Glissant se dedicou a pensar os efeitos da colonização. As capas terão obras de Arjan Martins.
MAPA DA MINA O clube de assinatura TAG estreia em outubro um novo modelo de vendas, o TAG Trilhas, box que vai reunir uma coleção de livros com uma mesma temática, oferecendo um caminho de leitura ao cliente. A primeira edição se chamará Vozes Negras e trará sete livros –“Úrsula”, de Maria Firmina dos Reis; “Amada”, de Toni Morrison; “Clara dos Anjos”, de Lima Barreto; “A Autobiografia de Minha Mãe”, de Jamaica Kincaid; “No Seu Pescoço”, de Chimamanda Adichie; “Dentes Brancos”, de Zadie Smith e “O Avesso da Pele”, de Jeferson Tenório.
DEBATE A partir de segunda-feira, dia 16, a Liga Brasileira de Editoras organiza um seminário para discutir a proposta de fixar os preços dos livros, com uma programação que traz consultores e pesquisadores nacionais e internacionais, além de profissionais como Marcus Teles, dono da rede Leitura, e Fernanda Diamant, sócia da livraria Megafauna e da editora Fósforo. A programação completa está na página da organização no Facebook.
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