Zeca Camargo

Jornalista e apresentador, autor de “A Fantástica Volta ao Mundo”.

Salvar artigos

Recurso exclusivo para assinantes

assine ou faça login

Zeca Camargo
Descrição de chapéu Mercosul

Mi Buenos Aires carito

Eu não contava com um bilhete aéreo que custasse mais do que R$ 20 mil

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

No próximo dia 24, uma das cinco bandas favoritas da minha vida vai tocar em Buenos Aires. Como estou numa rotina bastante pesada, achei que merecia ganhar um presente de mim mesmo: viajar para a cidade que eu adoro para uma extravagância musical. Só não contava com um bilhete aéreo que custasse mais do que R$ 20 mil.

Nem sei dizer quantas vezes já visitei a capital argentina. Ainda na infância, nos anos 1970, por uma situação de trabalho do meu pai, viajávamos ao menos duas vezes por ano para lá. A explosiva combinação de três crianças em um hotel de luxo na calle Florida rendeu a mim e aos meus irmãos o apelido de "los diablitos", passado já contado aqui mesmo neste espaço.

Deixei Buenos Aires meio de escanteio na juventude, mas na vida adulta a elegi uma das cinco cidades preferidas no mundo. Só neste século, já fui mais de 20 vezes.

Casais dançam tanto no Centro Cultural Mercedes Sosa, em Buenos Aires, em setembro de 2021 - Ronaldo Schemidt/AFP

Muitas delas, por um fim de semana. Conforme o período em que você viajasse, era mais barato (e mais perto) ir de São Paulo até lá do que para o nordeste brasileiro. E a balança cambial às vezes fazia dessa escala portenha uma pechincha.

Até antes da pandemia, me orgulhava de ir ao menos uma vez por ano para lá. A última delas, em 2018, viajando como cicerone de um casal que havia ganho a promoção de uma companhia aérea.

Em 2019 acabei não indo, mas ainda tinha frescas na memória duas viagens recentes: uma em 2017, quando me dei ao luxo de andar pela Corrientes tentando refazer os passos de Elza Soares, cuja biografia eu escrevia então; outra, em 2016 quando, num gesto de amor, levei alguém para ver um show de Rufus Wainwright no teatro Colón.

Foi justamente essa "loucura" que me inspirou a ver a tal banda, que aliás se chama El Robot Bajo el Agua. Conheci essa encanação de um músico genial chamado Nicolás Kramer em meados dos anos 2000, numa loja de disco em Palermo SoHo, que, ao que tudo indica, não sobreviveu à pandemia.

Obcecado com seu som aparentemente repetitivo (a base musical é quase sempre a mesma) mas, na verdade, incrivelmente inventivo, consegui colecionar quase tudo do Robot, juntar um punhado de informações sobre Kramer, e sempre sonhei poder vê-los um dia no palco.

Já duplamente vacinado e com a perspectiva neste mês da abertura da Argentina para turistas brasileiros, tracei o plano perfeito. Chegaria sexta e jantaria em Santelmo. No sábado, Palermo. Domingo, amanheceria no Malba, o melhor museu da capital, almoçaria em Puerto Madero e depois iria ao show do Robot. Segunda estaria em casa.

Foi quando os algoritmos jogaram contra. Quando pus as datas num site de busca de passagens, o melhor resultado foi uma que custava exatos R$ 24.275,00. Detalhe: o trecho de ida levaria 29 horas, via Atlanta; o de volta, 36 horas, por Frankfurt.

Primeiro, achei que era uma piada. Depois, uma provocação. Como fiz a pesquisa de madrugada, só pude consultar minha agente de viagens na manhã seguinte. E foi aí que ela me informou que, por conta da crise sanitária, tanto no Brasil quanto na Argentina, todos os voos entre os dois países tinham sido cancelados, com uma retomada prometida para esta semana.

De fato, uma nova busca segunda-feira já me deu razoáveis opções em torno dos R$ 4 mil reais, não fosse o retorno por Santiago do Chile, numa perna de 25 horas! Estamos condenados a viver distante dos "hermanos" por um tempo?

Tenho fé que até o outro fim de semana eu descubra um jeito de, finalmente, encontrar El Robot Bajo el Agua em Buenos Aires sem ser pelo preço que, em outras épocas, eu poderia trazer a banda inteira para tocar na minha casa.

LINK PRESENTE: Gostou deste texto? Assinante pode liberar cinco acessos gratuitos de qualquer link por dia. Basta clicar no F azul abaixo.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.