Estava literalmente flutuando, de barriga para cima, numa nascente cujo nome nem sei, se é que existe, que vai dar numa lagoa da qual eu nunca tinha ouvido falar. E tudo que conseguia pensar era: "Quantos lugares eu ainda tenho para descobrir neste Brasil?".
Voltei a Maceió recentemente, um lugar onde não apenas sou bem-vindo, mas também tenho muitos amigos queridos. Das artes, como os inspiradores Dalton e Maria Amélia, à culinária —que o diga o grande mestre Picuí.
E foi uma dessas amizades que me trouxe para essa experiência que contei no início do texto. Nide Lins é uma jornalista que acaba de lançar o ótimo "Guia da Gastronomia Popular Alagoana". Ela me convidou para escrever a apresentação do seu livro. Vim para o lançamento e acabei... flutuando.
Tudo tem a ver com um peixe chamado Carapeba. Ele está na capa do guia de Nide e não sem motivo. O primeiro deles é emocional: este era o peixe que seu pai, sempre muito bravo, como ela conta, trazia para a mesa para fazer as pazes com a filha depois de uma desavença.
Preparado de maneira simples, apenas grelhado, Nide me garantiu que era uma iguaria. Eu logo quis provar.
Fomos então a uma preciosidade chamada Lagoa de Jequiá a pouco mais de uma hora da capital. Ali, Nide me apresentou Alyson Cardoso, filho de pescadores que resolveu estudar biologia e explorar de uma maneira interessante o lugar onde cresceu.
Seus pais moram numa casa simples à beira da Lagoa de Jequiá. E, foi esse cenário que inspirou Alyson a fazer diferença. Com um profundo respeito ao meio ambiente à sua volta, ele começou a organizar o Eco Boat, um passeio de barco pela região, com um diferencial. Aliás, dois.
Numa das nascentes que desembocam na lagoa, a certa altura ele convida o turista a cair na água e ser levado pela correnteza. As boias salva-vidas, tudo de que precisamos para entrar num outro plano com a natureza.
O segundo diferencial é o almoço preparado por dona Ledinha, sua mãe, que inclui um pirão dos deuses, acompanhamento justamente do carapeba grelhado. Mas eu nem sonhava com isso ainda enquanto deslizava naquelas águas geladas...
Com o corpo livre, a mente se soltava ainda mais. E, vendo as copas das árvores em cima de mim, eu só pensava em quantos lugares assim ainda vou descobrir no Brasil.
Não digo "assim" no sentido de lugares parecidos com esse. A paisagem ali em Jequiá é o que eu chamaria de única e original. Mas estava pensando em destinos ainda por descobrir, nesse país que a gente nunca se cansa de explorar.
Do norte ao sul, já me encantei com tantas belezas no nosso país, que às vezes acho até que já vi de tudo. Da procissão de Nazinha, em Belém, aos vinhedos de Bento Gonçalves (RS); das rendas da Vila de Ponta Negra (RN) às queijarias artesanais da Serra da Canastra (MG); das cavernas de Bonito (MS) à cozinha de Preta na ilha dos Frades (BA).
E quanta coisa ainda tem para conhecer! E olha que eu não estou nem falando desse mundão, para não enlouquecer de vez. Se "só" aqui nesse Brasil já são tantas possibilidades, se pegar o passaporte então...
Era um pensamento tão vasto que quase dava vertigem. Por sorte, eu tinha as águas daquela nascente para me conectar novamente com as coisas possíveis. Mas que delícia era imaginar todas essas possibilidades infinitas de descobertas. E se sentir merecedor de cada uma delas.
Em menos de uma hora eu estaria numa mesa simples comendo o melhor pirão da minha vida. Mas, ali, largado naquelas águas cristalinas, eu só queria focar em ser o dono do mundo.
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