Entre tantas newsletters tão parecidas que sempre recebo de revistas, blogs e sites de turismo, uma que anuncia "as atrações turísticas que recebem mais críticas no mundo" inevitavelmente conquistou minha atenção.
Antes mesmo de ler o artigo, fiz um breve exercício mental para imaginar quais seriam essas possíveis atrações. Passei por visitas a lugares óbvios, sem muito sucesso...
Vá lá, minha primeira visita à torre Eiffel, em Paris, foi congelante. Acho que fui lá no dia mais frio daquele inverno de 1980 —e sem meias, isso me lembro bem. Mas isso não é motivo para acabar com um cartão postal que, de lá para cá, só me deu alegrias.
Sim, visitei a Capela Sistina acompanhado de uma multidão barulhenta. Porém, se você não é o próprio papa, encare o fato de que essa maravilha da criação humana só vai estar ao seu alcance assim: lotada de turistas (aliás, como eu e você).
Admito que foi constrangedor andar pelo "distrito vermelho" em Amsterdã e ver as mulheres expostas na vitrine. Também não tenho nada de bom para lembrar de um passeio pela orla de Luanda, em Angola, onde fui assaltado, a única vez que uma coisa dessas aconteceu comigo em viagens.
Nada disso, no entanto, me preparou para a surpresa que tive quando cliquei no link da tal lista. Ele me levou a uma reportagem da revista "Wanderlust", que citava um site chamado MRQ, que tinha feito um levantamento das atrações que recebiam poucas estrelas no Tripadvisor.
Quase engasguei quando vi que nada menos que o Palácio de Versalhes, um dos lugares mais deslumbrantes da França, estava lá. Também não acreditei que a torre de Pisa ou as pirâmides do Egito pudessem desagradar tanta gente. Quis entender melhor essas queixas.
A campeã de reclamações, com 20% das avaliações com apenas uma ou duas estrelas, é a Calçada da Fama, em Los Angeles: suja, bagunçada e sempre cheia de gente. Dá para entender, sobretudo se você foi até lá para visitar apenas uma ou duas celebridades que você ama.
Mas aí, em segundo lugar, com 17% das avaliações com uma ou duas estrelas, está Versalhes. A reclamação é aquela ladainha de quem já viajou bastante: filas quilométricas, bilhetes caros e até uma certa decepção com a visita. Mesmo?
Poucas coisas nos ensinam tanto sobre a história ocidental quanto um passeio pelo Palácio de Versalhes. Acompanhado de um bom guia, daqueles que trazem a história diante dos seus olhos, pode ser a visita mais fascinante da sua vida.
O que faz as pessoas se desencantarem, então? Será que elas acham que seriam tratadas como o próprio Luís 14? Toda a exuberância não basta para satisfazer o visitante, ou ainda, para recompensar o martírio das filas?
Administrar decepções é parte da barganha de uma viagem. Aprendi isso. Stonehenge, por exemplo, na Inglaterra, está também na inglória lista. Eu mesmo fui lá ainda garoto e não achei a coisa mais incrível do mundo. Nem por isso queria meu dinheiro da excursão que me levou até lá de volta.
A torre de Pisa, uma outra escala fascinante no meu currículo de viajante, aparentemente decepciona por sua visita interior. Os turistas zangões alegam que ela é mais interessante vista de fora. Sério?
Big Ben ("impreciso!"), a Casa Branca ("decepcionante!), o Empire State Building ("impossível ver a vista!"), o Palácio de Buckingham ("poucos jardins!") e até mesmo as pirâmides de Giza ("antro de falsos guias!") —cada lugar desses parece desagradar uma boa parte dos visitantes.
Eu tenho só uma pergunta para quem escreve comentários assim: você queria realmente sair de casa?
Comentários
Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.