Bilhete aponta comparsa de Marcola como mandante de mortes de chefe de facção

Papel, achado em presídio paulista, é analisado pelo Ministério Público

Luís Adorno
São Paulo | UOL

Um bilhete encontrado no presídio onde está a cúpula do PCC (Primeiro Comando da Capital), em São Paulo, indica que o braço direito de Marco Willians Herbas Camacho, o Marcola, foi o mandante da morte de dois líderes da facção criminosa no Ceará, no último dia 15 deste mês.

O bilhete, apreendido no domingo (18), está sob análise do Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado), órgão do Ministério Público. Ele foi encontrado na subportaria da Penitenciária 2 de Presidente Venceslau, a 600 km da capital paulista, na hora da limpeza.

O recado diz que uma pessoa conhecida como Fuminho, que seria o traficante Gilberto Aparecido dos Santos, mandou matar Rogério Geremias de Simone, o Gegê do Mangue, 41, e Fabiano Alves de Souza, o Paca, 38.

Bilhete encontrado na penitenciária 2 de Presidente Venceslau, em São Paulo
Bilhete encontrado na penitenciária 2 de Presidente Venceslau, em São Paulo - MP/Divulgação

Os dois, segundo a Promotoria, eram os principais líderes do PCC atuando fora dos presídios. Já Fuminho era o terceiro na hierarquia. Com os assassinatos, ele virou o principal criminoso da facção atualmente em liberdade, segundo as investigações.

No  bilhete está escrito: "Ontem, fomos chamados em umas ideias, aonde nosso irmão Cabelo Duro deixou nois ciente que o Fuminho mandou matar o GG e o Paka. Inclusive, o irmão Cabelo Duro e mais alguns irmãos são prova que os irmãos estavam roubando (sic)."

Fuminho, que estaria morando no Paraguai e que teria uma fazenda de produção de coca na Bolívia, é apontado pela Promotoria como braço direito e gerente, há anos, de Marcola, o líder máximo do PCC. Marcola está preso desde 1999.

Segundo dois promotores de Justiça ouvidos pela reportagem, o bilhete reforça a hipótese de que Marcola seria o mandante da morte de Gegê do Mangue e Paca. Teria partido dele a ordem repassada a Fuminho.

Em nota, a SAP (Secretaria da Administração Penitenciária) informou que a direção do presídio fez uma pesquisa caligráfica, mas não foi possível identificar o autor. "Ressalvamos também que o bilhete foi encaminhado à Secretaria de Segurança Pública do Ceará."

A principal hipótese da Promotoria paulista, desde que a notícia da morte dos criminosos veio à tona, é de que Marcola mandou matar os dois por eles estarem envolvidos no assassinato do ex-integrante da cúpula do PCC Edilson Borges Nogueira, o "Birosca", amigo pessoal de Marcola e de outros integrantes da cúpula. A decisão de mandar matar Birosca ocorreu quando Marcola estava no RDD (Regime Disciplinar Diferenciado). Ou seja, teoricamente, sem comunicação com os demais integrantes da facção.

 Marcola, chefe do PCC, conversa com detentos na Penitenciaria 2 de Presidente Venceslau
Marcola, chefe do PCC, conversa com detentos na Penitenciaria 2 de Presidente Venceslau - Divulgação

Além disso, Gegê do Mangue e Paca estariam tomando decisões sem o aval da cúpula e estariam desviando dinheiro da facção. Segundo a Polícia Civil do Ceará, quando os corpos foram encontrados, com eles havia um cordão de ouro, com um pingente de cifrão, e um relógio avaliados em cerca de R$ 440 mil. A mansão dentro de um condomínio de luxo onde eles viviam, em Aquiraz, era avaliada em R$ 2 milhões. 

"Esses dois homens foram mortos em uma área de reserva indígena em Aquiraz, no Ceará. Os moradores relatam que uma aeronave foi usada na ação criminosa. Um helicóptero teria efetuado voos em baixa altitude e os ocupantes efetuados disparos", explicou à reportagem o promotor Lincoln Gakiya, do Gaeco de Presidente Venceslau. Próximo aos corpos, havia várias cápsulas de pistolas 9 mm.

Esse helicóptero, segundo a Polícia Civil, já foi identificado e decolou da Praia do Futuro, em Fortaleza, para um voo panorâmico. A polícia diz já ter identificado a aeronave, que era utilizada apenas para passeios, e os prováveis assassinos, mas não revela mais detalhes por receio de atrapalhar a investigação.

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