Hélio Schwartsman

Jornalista, foi editor de Opinião. É autor de "Pensando Bem…".

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Hélio Schwartsman
Descrição de chapéu

Por que prendemos criminosos?

Encarceramento está deixando de ser uma solução racional

Presos mantidos na Penitenciária Industrial de Joinville, em Santa Catarina
Presos mantidos na Penitenciária Industrial de Joinville, em Santa Catarina - Avener Prado - 27.nov.2017/Folhapress

Estamos habituados a pensar que lugar de bandido é a cadeia, mas essa é uma ideia relativamente nova. Embora gregos e romanos tenham, já na Antiguidade, feito experimentos com a prisão como castigo para certos delitos, a maior parte dos Estados que desenvolveram sistemas penais se valia de versões mais ou menos escancaradas da “lex talionis”, isto é, do “olho por olho, dente por dente”.

É só a partir do século 17 que alguns países europeus vão voltar a flertar, e muito lentamente, com a cadeia como forma de punição. Antes disso, calabouços e masmorras eram apenas lugares onde o acusado aguardava sua sentença, frequentemente a execução, por enforcamento, decapitação, ou mesmo pelo fogo, ou algum tipo de castigo físico, como mutilações, chibatadas ou a marcação a ferro quente. A prisão nos moldes de hoje só se disseminou mesmo a partir do início do século 19.

E por que eu estou contando tudo isso? Bem, nossos trisavós também devem ter achado estranho quando pararam de enforcar bandidos e decidiram colocá-los em celas. Suspeito até que muitos disseram que isso era um arremedo de justiça. Mas o fato é que as considerações racionais dos pensadores iluministas acabaram prevalecendo, e os Estados concluíram que não era preciso incorrer em crueldade para obter os efeitos dissuasivos da aplicação de penas.

De modo análogo, o encarceramento está deixando de ser uma solução racional. No Brasil, gastamos R$ 20 bilhões por ano no sistema penitenciário e o efeito mais notável dessa política é que fornecemos mão de obra cativa para o PCC. Num mundo mais racional, a cadeia seria reservada para os criminosos que, se deixados soltos, sairiam atirando em seus patrícios. Para os demais, precisamos encontrar outras penas, menos onerosas e suficientemente dissuasivas. Muitos de nossos trisavós também acharam que não daria, mas deu, e o mundo é hoje um lugar melhor. 

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