Com emoticons, escola de SP incentiva alunos a externarem sentimentos

Painéis registram emoções e já resultaram em intervenções em casos de bullying e conflitos

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São Paulo

É de maneira inusitada que começam as atividades do dia dos cerca de 500 alunos do Educandário Dom Duarte, no Jardim Esmeralda, zona oeste de São Paulo: os estudantes colocam, em um painel ao lado da lousa, emoticons usados na internet para externar seu estado de espírito e disposição para assistir às aulas.

Com base no resultado demonstrado pelo "painel das emoções" —se a maioria começou o dia triste, alegre, irritada, nervosa, tranquila etc— o professor pode mudar a estratégia programada, alterando conteúdos ou metodologia, ou ainda propor intervenções individuais.

"O painel funciona como um termômetro para o educador. Mesmo aquela criança que tem colocado com frequência a carinha de alegre, é preciso prestar atenção e fazer alguma investigação, pois ela pode estar disfarçando um problema", afirma Marina Diniz Nambu, supervisora de projetos sociais do educandário, mantido pela organização Liga Solidária. 

Crianças expõem suas emoções em painéis no Educandário Dom Duarte, na zona oeste de SP - Eduardo Anizelli/Folhapress


A adesão à iniciativa é voluntária, mas acabou virando prática entre os alunos da escola. Para os menores, colocar seu emoticon é motivo de euforia. Os adolescentes resistiram mais, mas acabaram se convencendo de que a prática poderia ser positiva.

A dinâmica do painel permite que um mesmo estudante troque seu humor durante as aulas. Quando há algum conflito entre alunos, eles são estimulados a colocar seu sentimento novamente no quadro e, depois, abrir uma discussão sobre ele.

"Muitas vezes, crianças e adolescente entram em conflito por não conseguirem identificar seus sentimentos. Um pode não estar com raiva do outro quando começa uma briga, mas, sim, estar trazendo à tona uma situação vivida em casa. O que fazemos é abrir um espaço para discutir isso", diz Nambu.

O painel das emoções está inserido em um projeto maior de trabalhar a "cultura de paz" dentro da escola, o que envolve atividades pedagógicas, culturais e esportivas.

De acordo com a psicóloga Elaine Di Sarno, especialista em terapia cognitivo-comportamental pela USP, crianças trazem junto com sua história insatisfações e rebaixamento de autoestima e vão acreditando que são indesejáveis e incompetentes.

"Essa autoimagem negativa se projeta em ações de violência contra o outro e até contra si. O professor precisará proporcionar situações de verbalização de suas tensões por meio de desenho, escrita, jogos, leitura etc."

BULLYING

Casos práticos de intervenção nas famílias quando o aluno tem se expressado rotineiramente triste ou nervoso, por exemplo, já aconteceram e tiveram resultados positivos, segundo a escola.

Também já foram detectadas, por meio do uso do painel, ocorrências de bullying e de violência doméstica. 

A partir da constatação, a escola pode programar atividades como palestras, dinâmicas e realização de trabalhos em grupo para que os alunos aprendam e reflitam ao expor as emoções.

Para a professora de educação infantil Márcia Carmo da Silva, 36, a dinâmica deu tão certo que os próprios alunos já cobram discussões. "Eles pedem a abertura de diálogo quando o painel marca um resultado muito chamativo, com muitos apontando a mesma emoção", diz.

Para a psicóloga Di Sarno, "se desde cedo os alunos reconhecem o que sentem, ganham autonomia para agir em situações de conflito, aprendem a estabelecer relações de reciprocidade, de cooperação e de rivalidade, desenvolvendo sociabilidade e reduzindo sua vulnerabilidade".

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