Ibama apreende 430 kg de mercúrio destinados ao garimpo

Metal iria para minas de ouro ilegais da Amazônia

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Manaus
Garimpo e mercúrio nas areias de praias de rios localizados dentro da Terra Indígena Ianomâmi em Roraima
Garimpo e mercúrio nas areias de praias de rios localizados dentro da Terra Indígena Ianomâmi em Roraima - Ibama/Divulgação

Em investigação inédita que envolveu três Estados, o Ibama (Ibama Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis) apreendeu, em Joinville (SC), 430 kg de mercúrio importado. Segundo o órgão ambiental federal, metal iria para garimpos de ouro ilegais da Amazônia.

A apreensão ocorreu na última quarta-feira (31), mas só foi divulgada nesta terça-feira (6). A empresa responsável pela importação é a catarinense Quimidrol, que importa produtos químicos e farmacêuticos e está no mercado há 41 anos.

Desde 2014, a Quimidrol já vendeu cerca de 7 toneladas de mercúrio para a JF de Oliveira, de Várzea Grande, na região metropolitana de Cuiabá (MT).

Trata-se de um comprador fantasma, segundo as investigações. No endereço registrado no Cadastro Técnico Federal (CTF), funciona uma mercearia e distribuidora de alimentos. A operação também investiga empresas intermediárias do Estado de São Paulo.

A empresa mato-grossense é, de longe, o principal cliente do mercúrio importado da Quimidrol representa 70% das vendas, sempre segundo o órgão ambiental.

A empresa catarinense deve receber, nos próximos dias, cerca de 2 toneladas de mercúrio, que também serão apreendidos pelo Ibama quando chegarem ao porto de Itajaí (SC).

A reportagem da Folha procurou a Quimidrol por telefone e foi orientada a enviar os questionamentos por e-mail. Até o final da manhã desta terça-feira (6), as repostas não haviam sido enviadas.

Os representantes da empresa de MT não foram localizados. Na distribuidora, a informação é de que a JF de Oliveira funcionava no local, mas fechou há cerca de oito anos.

"A característica do Ibama de monitorar desde o comércio exterior até a distribuição do mercúrio permitiu o olhar abrangente", afirmou, por telefone, o analista ambiental do Ibama Bruno Barbosa, responsável pela operação.

O uso indiscriminado de mercúrio é considerado um dos principais problemas ambientais da Amazônia. Pesquisa recente da Fiocruz realizada em 19 aldeias ianomâmis de Roraima, por exemplo, mostra que a contaminação pelo metal chega a 92% dos moradores de algumas delas.

O Brasil é um dos 140 signatários da Convenção de Minamata da ONU, de 2013, que restringe o uso do mercúrio por causa dos problemas ambientais e de saúde.

O nome é uma referência à cidade japonesa de Minamata, onde houve uma explosão de casos de contaminação por mercúrio, afetando principalmente o sistema nervoso. A origem do problema de saúde pública foi o despejo ilegal de mercúrio por uma indústria.

PROIBIÇÃO

Por causa desse acordo, a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) proibiu, a partir de 2019, a fabricação, importação e venda no país de termômetros e aparelhos de pressão que utilizam mercúrio.

Os garimpeiros afirmam que o despejo de mercúrio, usado para a separação do ouro, diminuiu bastante nos últimos anos com a introdução do cadinho.

Semelhante a uma pequena panela, o aparato permite a recuperação da maior parte do mercúrio, que tem um alto custo —1 kg do metal custa cerca de R$ 1.500 nas regiões mais isoladas da Amazônia.

No site da Quimidrol, um botijão de ferro com 34,5 kg de mercúrio era vendido por cerca de R$ 10 mil, segundo o Ibama —aproximadamente, R$ 290 por cada quilo.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.