Descrição de chapéu drogas

Votação de texto polêmico em conselho de drogas fica para março

Resolução apresentada ao Conad por ministro emula projeto de lei no Congresso

Fernanda Mena Fernando Tadeu Moraes
São Paulo

A reunião desta quinta (1º) do Conselho Nacional de Políticas Sobre Drogas (Conad), principal colegiado sobre o tema no Brasil, ligado ao Ministério da Justiça, deliberou pela votação de uma resolução que reproduz princípios e diretrizes de um projeto de lei que tramita no Congresso desde 2013 e é alvo de controvérsia na comunidade científica.

A votação, no entanto, foi interrompida por um pedido de vistas do representante da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), o médico Francisco Inácio Bastos, da Fundação Oswaldo Cruz. O pedido está previsto no regimento do órgão .

Foto do Ministro do Desenvolvimento Social e Agrário, Osmar Terra, conselheiro do Conad
O Ministro do Desenvolvimento Social e Agrário, Osmar Terra, conselheiro do Conad - Neto Talmeli/Folhapress

"Fiquei muito surpreso quando a votação da resolução entrou na pauta do encontro porque havíamos combinado, numa reunião técnica na véspera, que dedicaríamos o encontro à elaboração de uma agenda de trabalho para o conselho", disse Paulo Aguiar, representante do Conselho Federal de Psicologia.

Tanto a resolução proposta ao Conad como o PL 37, hoje no Senado, são de autoria do então deputado federal e hoje ministro de Desenvolvimento Social e Agrário, Osmar Terra (PMDB-RS), que se diz "militante do projeto de enfrentamento das drogas" e entrou no Conad em 2016.

"Disseram para votarmos a resolução primeiro e discutirmos depois, quando é óbvio que nada será mudado após sua aprovação", criticou Aguiar, que diz que a presença de um ministro de Estado como conselheiro causa desconforto e assimetria no colegiado.

"A resolução foi proposta de maneira pouco democrática: chegou pronta, sem discussão com o plenário. O ministro Osmar Terra quer aprová-la de todo jeito e a toque de caixa, já que não conseguiu fazer seu projeto avançar no Legislativo."

A resolução, assim como o PL de sua autoria, propõe uma política nacional contrária à legalização de qualquer substância ilícita e favorável a programas com foco na abstinência e ao trabalho de comunidades terapêuticas, instituições, em geral religiosas, que oferecem internação a dependentes químicos. Elas foram alvo de inspeção do Ministério Público Federal, que encontrou problemas de internações forçadas e sem registro, além de suspeita de trabalhos forçados.

Para Terra, "a proposta está mais do que debatida". "Todos tiveram tempo de ler e debater. Fiquei quatro anos da Comissão de Política de Drogas da Câmara e era sempre a mesma lenga-lenga", disse. "Quando mais cedo aprovarmos [a resolução], melhor poderemos agir na realidade. Hoje, estamos validando a política atual, que é ideológica e completamente fora da realidade."

Questionado se sua proposta não poderia também ser considerada ideológica, o ministro disse que não. "Ela é baseada em evidências científicas", declarou.

A próxima reunião do Conad deve ocorrer em março. O ministro Terra terá de deixar o Conad em abril, quando deixará a pasta do Desenvolvimento Social para se candidatar à reeleição na Câmara dos Deputados.

Segundo Aguiar, a sociedade precisa discutir a composição do Conad. "Boa parte delas são indicações do Ministro da Justiça, portanto, muito afinadas com o que ele quer. As vagas do terceiro setor, por exemplo, estão todas ocupadas por gente das comunidades terapêuticas."

O Conad --responsável por acompanhar a política de drogas-- tem 28 cadeiras, ocupadas pelo titular da Secretaria Nacional de Políticas de Drogas, representantes de ministérios, conselhos de classe e grupos da sociedade civil. Doze são de órgãos do governo federal e seis são indicadas diretamente pela Secretaria Nacional de Drogas (Senad), subordinada ao ministro da Justiça.

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