A cerâmica era retirada com cuidado do forno e preparada para as primeiras pinceladas. Uma, duas, três cores até que o floral estilo Liberty começasse a ficar claro. O processo meticuloso era acompanhado de perto por Clementina que, ainda menina, já ajudava o pai, Silvio.
A arte estava sempre presente enquanto ela crescia. Primeiro na região de Laveno-Mombello, na Itália, onde nasceu, e depois em São Paulo, onde chegou aos três anos após o pai ser chamado para ensinar pintura em cerâmica pelas indústrias Matarazzo.
Crescida, a menina escolheu outro tipo de arte para seguir. Formou-se urbanista e se dedicou principalmente à distribuição das cidades. Chegou a participar, nos anos 1960, da montagem do Plano Urbanístico Básico, que pretendia uma São Paulo mais humana, e, mais recentemente, do Plano Diretor Estratégico de 2002.
Suas ideias pioneiras incluíam a criação de parques lineares e, hoje, a reabertura dos rios "escondidos" há décadas.
Trabalhou até 2015, mesmo aposentada, alternando seus dias entre a capital paulista e Guarujá, no litoral, onde o companheiro, Leonardo, a esperava. A saudade do casal era saciada pelos inúmeros telefonemas e depois via email, que ela aprendeu a manusear nos últimos anos.
Os dois italianos, que se conheceram num curso em 1959, se reencontraram após 30 anos e retomaram o romance.
Alegre e sempre disposta, Tina --como era chamada por Leonardo —retomou as pinturas nos últimos anos, agora as pinturas de lenço. Parou apenas no dia 21, aos 89 anos, por insuficiência cardíaca. Deixa marido, irmã e sobrinhos.
coluna.obituario@grupofolha.com.br
Comentários
Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.