Descrição de chapéu Rio de Janeiro

Operação na Rocinha tem 6 mortos pela polícia e corpos em passarela

De manhã, a PM chegou a informar que sete morreram em confronto com Batalhão de Choque

Italo Nogueira Lucas Vettorazzo
Rio de Janeiro

Uma operação da Polícia Militar ao fim de um baile funk na Rocinha na manhã deste sábado (24) terminou com ao menos seis mortos, corpos depositados numa passarela e conflito de informações entre órgãos públicos sobre o número de vítimas da chacina.

A ação mais violenta da polícia desde o início da intervenção federal na segurança pública do estado ocorreu por volta das 5h30 na localidade conhecida como Roupa Suja.

De manhã, a PM confirmou que sete pessoas morreram em suposto confronto com o Batalhão de Choque. Familiares de vítimas afirmaram, contudo, que agentes atiraram a esmo contra o grupo que saía do baile, embora reconheçam que havia alguns criminosos entre eles. Ao menos uma das vítimas foi baleada nas costas.

A Secretaria Municipal de Saúde confirmou pela manhã a chegada no Hospital Miguel Couto de sete mortos por armas de fogo da Rocinha.

Ao fim da tarde, contudo, a PM declarou que foram, na verdade, seis mortes em confronto —embora o hospital confirme a chegada de sete corpos da favela. Atribuiu o erro ao fato das informações iniciais terem sido passadas enquanto a ação policial estava em curso.

No início da tarde, moradores deixaram outros dois corpos na passarela sobre a estrada Lagoa-Barra —projetada pelo arquiteto Oscar Niemeyer e símbolo das obras inacabadas do PAC (Programada de Aceleração do Crescimento) na favela. A Polícia Civil vai investigar a relação desses dois casos com o conflito da PM.

O Batalhão de Choque afirma que foram apreendidos na ação um fuzil, seis pistolas e duas granadas —pela manhã, a PM informara uma pistola a mais.

A ação ocorreu dois dias após a morte de um PM na Rocinha. Desde setembro, a favela vem sendo palco de sucessivas operações, inclusive com a participação do Exército, em razão dos confrontos de quadrilhas de traficantes. No período, 48 pessoas foram mortas pela polícia em supostos confrontos.

familiares

Familiares de Matheus da Silva Duarte Oliveira, 19, que não quiseram se identificar, negaram que o rapaz fosse envolvido com a quadrilha da região. Eles mostraram uma foto do jovem com uma perfuração de bala nas costas, indicando como prova de que ele fugia quando foi baleado.

A mãe do rapaz, que pediu para não ter o nome divulgado, disse que Oliveira fazia parte de um grupo de valsa na Rocinha. Ele participou de uma festa na noite de sexta-feira (23), foi para o baile funk, e se mudaria para casa da mãe, na favela de Antares (zona oeste), por um período —ele vivia com a avó.

"Estava vindo para levar ele para minha casa para esperar essa poeira da Rocinha passar. Não deu tempo", disse ela, que saiu da Rocinha há quatro anos após ser indenizada pelo Estado pela remoção causada pelas obras inacabadas do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento).

O Centro de Operações da Prefeitura orientou atenção aos motoristas que passarem pela estrada Lagoa-Barra. A via não chegou a ser fechada.

O Rio está sob intervenção federal na área de segurança pública há pouco mais de um mês. Procurado, o gabinete dos interventores não comentou a ação até o começo desta noite. 

Vista da favela da Rocinha localizada na zona Sul do Rio de Janeiro (RJ). - Ricardo Borges/Folhapress

INTERVENÇÃO FEDERAL

 A intervenção, inédita, foi anunciada pelo presidente Michel Temer (MDB) em 16 de fevereiro, com o apoio do governador Luiz Fernando Pezão, também do MDB.

Temer nomeou como interventor o general do Exército Walter Braga Netto. Ele, na prática, é o chefe dos forças de segurança do estado, como se acumulasse a Secretaria da Segurança Pública e a de Administração Penitenciária, com PM, Civil, bombeiros e agentes carcerários sob o seu comando.

O Rio de Janeiro passa por uma grave crise política e econômica, com reflexos diretos na segurança pública. Desde junho de 2016, o estado está em situação de calamidade pública e conta com o auxílio das Forças Armadas desde setembro do ano passado. 

Não há recursos para pagar servidores e para contratar PMs aprovados em concurso. Policiais trabalham com armamento obsoleto e sem combustível para o carro das corporações. Faltam equipamentos como coletes e munição.

A falta de estrutura atinge em cheio a moral da tropa policial e torna os agentes vítimas da criminalidade. Somente no ano passado 134 policiais militares foram assassinados no estado —neste ano já são 31.

Policiais, porém, também estão matando mais. Após uma queda de 2007 a 2013, o número de homicídios decorrentes de oposição à intervenção policial está de volta a patamares anteriores à gestão de José Mariano Beltrame na Secretaria de Segurança (2007-2016).

Em 2017, 1.124 pessoas foram mortas pela polícia. Em meio à crise, a política de Unidades de Polícia Pacificadora ruiu —estudo da PM cita 13 confrontos em áreas com UPP em 2011, contra 1.555 em 2016. Nesse vácuo, o número de confrontos entre grupos criminosos aumentou.

Apesar da escalada de violência no Rio, que atingiu uma taxa de mortes violentas de 40 por 100 mil habitantes no ano passado, há outros estados com patamares ainda piores. No Atlas da Violência 2017, com dados até 2015, Rio tinha taxa de 30,6 homicídios para cada 100 mil habitantes, contra 58,1 de Sergipe, 52,3 de Alagoas e 46,7 do Ceará, por exemplo.

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