Quem ofender a Polícia Militar corre risco de vida em SP, diz governador

Márcio França (PSB) homenageou policial que matou ladrão em SP

Policial reage e mata assaltante em frente à escola da filha em Suzano (Grande SP)
Policial reage e mata assaltante em frente à escola da filha em Suzano (Grande SP) - Reprodução
Kaio Esteves Géssica Brandino
Araçatuba

O governador paulista, Márcio França (PSB), disse nesta segunda-feira (14) que aquele que ofender a farda da Polícia Militar, ofender a integridade policial, está correndo risco de vida. Ele esteve em Araçatuba (a 540 km de SP) para assinar convênios e entregar unidades habitacionais na região.

"As pessoas têm que entender que a farda deles [PM] é sagrada, é a extensão da bandeira do estado de São Paulo. Se você ofender a farda, ofender a integralidade do policial, você está correndo risco de vida. É assim que tem que ser", afirmou o governador.

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Como mostrou reportagem da Folha nesta segunda-feira, França contrariou estratégia da Polícia Militar ao organizar uma cerimônia em homenagem à cabo Katia da Silva Sastre, 42, que matou um ladrão durante tentativa de assalto em frente a uma escola em Suzano, na Grande São Paulo.

O ato oficial de enaltecimento à reação da policial com morte do bandido pode passar mensagem equivocada à tropa e à população de incentivo às pessoas reagirem a assaltos —na contramão da orientação da polícia. Outra é que a morte de ladrões seja vista pela corporação como algo incentivado pelo governo, após a escalada nos últimos anos do número de mortos pela polícia —alta de 10% em 2017, com 943 casos, recorde desde 2001.

Tudo isso mesmo que a atitude da cabo tenha sido correta diante do risco no caso específico.

"É claro que a gente gostaria que não acontecessem casos assim, mas quando acontecem casos como este, eu fiz questão de elogiar. Acima de tudo, como mãe, ela deu um exemplo para a sociedade. Os jornais podem criticar, eu respeito quem critica, mas a maioria de São Paulo elogiou e acha que está correto, que a atitude da moça foi decente", disse o governo no interior paulista.

"Quando um médico, a polícia, um político fazem coisas erradas, a gente não tem que criticar? Do mesmo jeito, quando fazem uma coisa certa, que é acima da obrigação, a gente tem que elogiar. Não custa nada elogiar. A PM é o único setor público em que, quando falham, são identificados. Em qualquer lugar que eles andam, sabem que são policiais. Então são vulneráveis", acrescentou França.

As afirmações de França remetem a declaração do então governador Geraldo Alckmin (PSDB), em 2012, sobre uma ação da PM que terminou com nove mortos no interior de SP. “Quem não reagiu está vivo”, declarou o tucano na ocasião.

Também nesta segunda-feira, o governador criticou reportagem segundo a qual, ao fazer uma cerimônia neste domingo (13) para enaltecer a mãe PM que matou um ladrão, ele adotou uma estratégia em ano eleitoral oposta à definida pela cúpula da própria polícia para reduzir os índices de letalidade da corporação. "A Folha está totalmente equivocada porque ela ouviu especialistas em segurança. A meu ver, os especialistas em segurança são os policiais militares".

Em sua conta em uma rede social, França escreveu que "a Folha SP de hoje traz um texto crítico à policial que reagiu a um assalto covarde. Diz que minha 'ação se opõe a estratégia da cúpula'. Qual cúpula?" 

A reportagem da Folha, no entanto, aponta críticas de especialistas em segurança pública não à policial militar, mas ao ato do governador, pelo temor de que a homenagem possa passar mensagens equivocadas à tropa e à população.

O coronel Marcelo Vieira Salles, novo comandante-geral da PM, havia manifestado preocupação nos últimos dias com a letalidade policial —apesar da queda no primeiro trimestre — e dado orientação a subcomandantes de que reduzi-la era prioridade.

Salles disse aos subordinados que a estratégia era a de evitar qualquer exaltação de mortes cometidas por PMs. A Folha apurou que ele fez críticas duras na última semana à política de premiação a policiais que matam criminosos e afirmou que a sua filosofia era totalmente oposta a isso.

Neste domingo, convocado para acompanhar a cerimônia, defendeu a reação da cabo ao assalto e disse não entender a homenagem como um endosso à morte de ladrões.

Questionado pela Folha se a exaltação à cabo não iria contra a política de desincentivo à letalidade policial, França disse que “a homenagem é feita porque é Dia das Mães”. 

Candidatos

Os pré-candidatos ao governo do estado reagiram de forma diferente em relação à declaração de França, porém tanto o presidente da Fiesp Paulo Skaf (MDB) quanto Luiz Marinho (PT) viram como natural a atitude da policial.

Em nota, Paulo Skaf concordou com França. "A cabo Kátia da Silva Sastre cumpriu seu dever em defesa da sociedade e mereceu o reconhecimento que recebeu”, disse.

Embora tenha visto com naturalidade a reação da policial, por estar à paisana e ter o dever de agir, Luiz Marinho afirmou que o governador cometeu um conjunto de falhas de comportamento no processo. “Você enaltecer a morte, a letalidade, acho muito perigoso. A valorização da polícia é necessária, mas não é isso que estão pedindo. Querem ser valorizados para não ter que fazer bico para sobreviver”, disse, destacando o grande número de policiais mortos durante o horário de folga.

​O ex-prefeito de São Paulo, João Doria (PSDB), está em Nova York e não quis comentar sobre o caso. ​

ENTENDA

A PM Kátia Sastre estava acompanhada de sua filha de sete anos quando reagiu ao assalto em frente à escola da menina, no bairro Jardim dos Ipês, em Suzano, na manhã do último sábado (12).

A ocorrência ocorreu por volta das 8h. Mães e crianças pequenas aguardavam a abertura dos portões da escola particular Ferreira Master, que sediaria uma festa de Dia das Mães, quando foram abordadas por um rapaz com um revólver calibre 38, que anunciou o roubo. ​

De folga, Kátia disparou três vezes contra o ladrão, identificado como Elivelton Neves Moreira, 21. Ele caiu no chão e então foi desarmado. Ele foi encaminhado à Santa Casa da cidade, mas não resistiu aos ferimentos e morreu.

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