Descrição de chapéu tragédia dos sem-teto

Vasty, Sarah, Wiki e mais 2 cães atuam na busca de desaparecidos em prédio

Pastores belgas malinois e labradores retriever são as raças mais resistentes

O bombeiro Fabrício Assumpção e a cadela Vasty participam das buscas em destroços no largo do Paissandu, no centro de SP  
O bombeiro Fabrício Assumpção e a cadela Vasty participam das buscas em destroços no largo do Paissandu, no centro de SP   - Zanone Fraissat/ Folhapress
Renan Marra
São Paulo

Cinco cães farejadores auxiliam os bombeiros nas buscas aos desaparecidos do edifício Wilton Paes de Almeida, que desabou após pegar fogo na terça-feira (1º), no largo do Paissandu, em São Paulo. São três pastores belgas malinois e dois labradores retriever, raças consideradas mais resistentes, que suportam bem as condições de alta temperatura, baixa umidade e muita poeira.

Entenda o que já se sabe sobre o desabamento de prédio em SP

Na quinta-feira (3), Vasty, uma pastora belga de cinco anos, ergueu as orelhas, andou em círculos e cavou os entulhos. Eram sinais de que algum corpo estava soterrado ali. Se houvesse alguém vivo sob os escombros, ela latiria.

O comportamento de Vasty no terceiro dia de buscas norteou o trabalho dos bombeiros. Equipes de busca passaram a cavar manualmente o local apontado pela cadela.

No dia seguinte, ainda sem resultados, mais dois cães foram levados ao local. As labradoras Sarah e Wiki também tiveram mudanças de comportamento —a segunda, ainda uma filhote de nove meses, estreava em uma operação real.

Normalmente, o cão é considerado pronto para atuar nesse tipo de ocorrência com um ano e meio. Wiki, a mais novata no local da tragédia e ainda em processo de aprendizagem, se mostrou eficiente.

Aproximadamente 22 horas após Vasty indicar o local, o corpo de Ricardo Oliveira Galvão Pinheiro, também conhecido como Tatuagem, foi encontrado. Ele estava exatamente embaixo de onde foi apontado pela cadela.

O trabalho dos cães farejadores é considerado fundamental em uma operação de buscas. Quando entram em cena, os maquinários pesados param para que eles consigam se concentrar na busca por sinais vitais. O adestrador que acompanha o animal também não pode perder a concentração.

“Às vezes a pessoa está do seu lado te chamando e você não ouve. Você fica focado no cão porque, se você perder um detalhe, pode perder a ocorrência”, diz o sargento dos Bombeiros Ricardo Oliveira dos Santos, adestrador de Moli, de apenas cinco meses. Hope, de três anos, é a outra cadela que ajuda nas buscas.

A relação entre cão e adestrador é intensa. Cada animal só pode ir para treinamento ou serviço com o seu próprio treinador. “Indiretamente você acaba conversando com o cão. Ele te mostra o que você está querendo ver. Ele é o seu olho, nariz e ouvido dentro da ocorrência. Ele diz: ‘Olha, aqui tem coisa e aqui não tem’”, diz o cabo Fabrício Assumpção, adestrador da Vasty.

São anos de convivência quase que ininterrupta com os animais. Para estreitar ainda mais os vínculos com os cães, alguns bombeiros os levam para suas casas nas folgas ou nas férias. A maioria dos bombeiros leva o cão em definitivo quando o animal se aposenta, aos oito anos de idade.

“Você acaba convivendo com o cachorro. Há muito carinho e afinidade. Eles passam até mais da metade da vida deles com a gente”, diz Assumpção. 

A rotina de quem tem filhote é ainda mais puxada. Isso porque, no primeiro ano de idade, o cão aprende mais. Depois disso, só é feita manutenção daquilo que o animal já sabe fazer.

Grande parte dos treinos consiste em uma espécie de esconde-esconde. Quando o cão acha uma pessoa em um local que simula o de uma ocorrência, ele é compensado. Todas as vezes é como se o cão estivesse trabalhando, pois ele não diferencia um treinamento de uma situação real.

Em um cenário de tragédia, os cães farejadores têm três funções: descartar uma área para buscas, delimitá-la e indicar o local exato para as equipes de busca.

A preocupação com a saúde dos cães é grande. O trabalho de resfriamento é importante para que os animais não queimem as patas. Antes de o cão subir nos entulhos, é feita uma avaliação para saber se o local não impõe risco à saúde dos animais. Eles ficam na área comprometida por não mais que 20 minutos e têm intervalos para descanso de uma hora.

“O maior perigo hoje [no largo do Paissandu] são os vergalhões. Tem muito ferro retorcido, muita ponta e, se isso entrar na pata do cão, pode ser um problema”, pondera o cabo Assumpção.

Os pastores belgas têm focinhos maiores e, portanto, maior quantidade de células olfativas. É um cachorro versátil, extremamente curioso e tem muita resistência. O labrador retriever instintivamente gosta de buscar coisas e trazer ao condutor.
 

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