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Estudantes de direito da PUC-RJ são acusados de racismo durante jogos

Segundo relatos, alunos teriam imitado macaco para insultar outros estudantes

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Campus da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio)
Campus da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio) - Fernando Frazão/Folhapress
Rio de Janeiro

Alunos do curso de direito da PUC-Rio estão sendo acusados de promover atos de racismo durante partidas dos Jogos Jurídicos, campeonato esportivo estudantil ocorrido na semana passada na cidade de Petrópolis (RJ).

Segundo relatos publicados nas redes sociais, ao menos três alunos da PUC-Rio, com o intuito de insultar estudantes da Uerj (Universidade do Estado do Rio), teriam imitado macacos durante a final de basquete masculino, no sábado (2). 

O mesmo estudante relata que, na sexta-feira (1), uma casca de banana teria sido lançada em quadra pela torcida da PUC em direção a um aluno negro da UCP (Universidade Católica de Petrópolis) que disputava uma partida de futebol de campo.

De acordo com um aluno que participou do campeonato e pediu que seu nome não fosse divulgado, o estudante agredido chegou a deixar a competição após as ofensas. Ainda não foi registrado nenhum boletim de ocorrência sobre os casos.

Nenhum estudante que supostamente participou de atos de racismo foi identificado até agora. Em nota, a PUC-Rio informou que soube dos casos pelas redes sociais. Uma comissão de professores foi constituída para averiguar as denúncias nos próximos 15 dias. O objetivo é verificar a veracidade e, se possível, individualizar possíveis condutas erradas.

“Aproveitamos a oportunidade para reiterar o compromisso da PUC-Rio com os princípios que constituem nossa missão pedagógica e cidadã. Com base nesses princípios, acreditamos que o racismo, violência que ainda corrói a sociedade brasileira, deve ser enfrentado por medidas repressivas e inclusivas”, afirma a PUC, em nota oficial.

“Não tergiversamos em combater qualquer forma de manifestação de racismo por meio de punições disciplinares e preservaremos o esforço de contínua melhoria das políticas de promoção da diversidade e da igualdade racial em nossa universidade”, completa o comunicado.

Outros relatos surgiram nas redes ao longo deste domingo (3). Segundo uma estudante da Uerj, uma jogadora de handebol da UFF (Universidade Federal Fluminense) teria sido chamada de macaca por uma torcedora da PUC-Rio em quadra. A jovem agredida teria deixado a quadra chorando.

A etapa regional dos jogos, que tem também campeonatos nacionais, durou todo o feriado prolongado. Participaram estudantes de universidades públicas como UFRJ, Uerj, Unirio e UFF, e particulares, como PUC-Rio, Ibmec, FGV e Cândido Mendes.

O clima de provocação nas arquibancadas é comum, diz um participante. Todas as noites há festas de confraternização. Não é a primeira vez, contudo, que ocorrem atos de racismo nos jogos. Em abril deste ano, foi criada a página “Jogos Sem Racismo” para mobilizar estudantes negros com o intuito de evitar novos casos de discriminação.

Segundo relato de um estudante da Uerj, a universidade é uma das mais atacadas por ter em seus quadros grande quantidade de negros —a universidade foi a primeira a implementar o sistema de cotas raciais no país. As equipes eram chamadas de maneira jocosa de “Congo” por adversários. 

Em 2017, alunos fizeram um protesto contra racismo nas competições. Um cordão humano foi formado no centro de uma quadra, em que estudantes negros puxavam em jogral o grito “povo preto unido é povo preto forte”.

O grupo Jogos Sem Racismo pediu punição às equipes da PUC-Rio pelos casos desta edição. “Esperamos, ao menos, que essa dor descomunal se revele uma oportunidade para que todas as faculdades de direito repensem suas práticas e tornem os jogos um ambiente mais inclusivo”, diz nota emitida pelo grupo.

O estudante de direito da Uerj Thiago Sussekind foi um dos que postou relatos com as acusações de racismo. Segundo ele disse em postagem em rede social, quando houve o primeiro episódio, alguns alunos da Uerj foram tirar satisfação com os rivais da PUC-Rio. Não há registros em vídeo das atitudes racistas supostamente cometidas por alunos da PUC.

O estudante relatou nesta segunda-feira (4) que depois que suas postagens viralizaram nas redes, uma pessoa teria lhe feito ameaças.

Também circulam nas redes vídeos em que alunos da UFF cantam em coro, na arquibancada, que “racistas não passarão”.

Procurada para comentar o caso, a reitoria da Uerj divulgou nota em que repudia atos de racismo e se solidariza com estudantes que tinham sido vítima durante os jogos. A universidade pediu ainda investigação dos fatos a fim de que os responsáveis sejam punidos. A Uerj classificou de inadmissíveis atos dessa natureza.

“É absolutamente inadmissível que atos como esses ainda possam ocorrer, especialmente por envolver estudantes de direito. Considerando que o racismo é crime, não podemos nos furtar de exigir a devida investigação desses fatos e rigorosa punição, devendo ser assegurada ampla defesa dos envolvidos.”

 
 
 
 
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